A pandemia causada pelo novo coronavírus revela a cada dia as consequências deixadas mundo afora e, no Brasil, os efeitos mais severos podem ser demostrados nos dados de abril, mês da escalada da doença e de endurecimento das medidas de distanciamento social. No período, as vendas no comércio varejista registraram uma queda jamais vista na passagem histórica da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. Na passagem de março a abril, as vendas do setor recuaram 16,8%, fortemente impactadas pelas medidas restritivas adotadas por diversos estados na segunda quinzena de março a fim de se evitar a propagação da Covid-19. O resultado divulgado nesta terça-feira, 16, é o pior desde o início da série histórica, em janeiro de 2000, e a segunda queda consecutiva, acumulando uma perda de 18,6% nos últimos dois meses. Foi a primeira vez que a entidade calculou os resultados de um mês inteiro em que o país está no quadro de isolamento social.
ASSINE VEJA
Clique e AssineO recuo nas vendas do varejo atingiu todas as oito atividades pesquisadas pelo instituto. Mesmo segmentos considerados essenciais, que não fecharam as portas para conter a disseminação da enfermidade e funcionaram normalmente em abril, sofreram. Foi o caso de “artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos”, que registrou uma queda acapachante de 17%. O setor de “hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo”, por sua vez, recuou 11,8% na passagem mensal. As maiores perdas, no entanto, foram vistas em mercados como “tecidos, vestuário e calçados” (-60,6%); “livros, jornais, revistas e papelaria” (-43,4%) e “outros artigos de uso pessoal e doméstico” (-29,5%).
Segundo o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, as perdas do mês de março no comércio varejista foram menores devido às atividades essenciais terem registrado um bom desempenho, elevando os números do setor. “Em março, podemos imaginar o cenário em que essas atividades essenciais absorveram um pouco das vendas das outras atividades que tinham caído muito, mas nesse mês isso não foi possível. Tivemos também uma redução da massa salarial que, entre o trimestre encerrado em março para o encerrado em abril, caiu 3,3%, algo em torno de 7 bilhões de reais. Isso também refletiu nessas atividades consideradas essenciais”, explica Santos.
Completam o grupo de atividades do setor: “equipamentos e material para escritório, informática e comunicação”, que registrou perdas de 29,5%; “móveis e eletrodomésticos”, com queda de 20,1% e “combustíveis e lubrificantes” (-15,1%). Já o volume de vendas do comércio varejista ampliado, que integra também as atividades de “veículos, motos, partes e peças” (-36,2%) e “materiais de construção” (-1,9%), caiu 17,5% nesse mês. “No caso do ampliado, ele já vinha numa queda intensa desde o mês passado (-13,7%), especialmente devido ao recuo em veículos, motos, partes e peças”, diz Santos.
Na comparação com abril do ano anterior, o comércio varejista também recuou 16,8%. Todas as atividades pesquisadas caíram, com destaque para “tecidos, vestuário e calçados” (-75,5%); “livros, jornais, revistas e papelaria” (-65,6%); “outros artigos de uso pessoal e doméstico” (-45,6%), “equipamentos e material para escritório, informática e comunicação” (-45,4%) e “móveis e eletrodomésticos” (-35,8%).
Queda em todos os estados
A PMC mostrou que as vendas do mês de abril em comparação com março recuaram em todas as 27 unidades da federação. Os piores desempenhos foram registrados no Amapá (-33,7%), em Rondônia (-21,8%) e no Ceará (-20,2%). No comércio varejista ampliado, a variação negativa também se deu em todos os estados brasileiros, com destaque para Amapá (-31,6%), Espírito Santo (-23,4%) e São Paulo (-23,3%). Espera-se uma leve melhora nos números da próxima pesquisa, a ser divulgada no mês de julho.