WhatsApp vai começar pagamentos, diz BC no dia de estreia do PIX
Presidente da autoridade monetária afirma que app de mensagens iniciará transferências entre pessoas físicas, mas não deu data para a estreia da novidade
Era junho quando o WhatsApp, do Facebook, anunciou com pompa e circunstância que iria lançar um sistema de pagamentos — com parceiros peso pesados do mercado financeiro como Cielo, Banco do Brasil, Nubank, Sicredi, Visa e Mastercard. Com isso, qualquer pessoa poderia transferir dinheiro por mensagens como quem compartilha um meme. No entanto, o Banco Central, autoridade monetária do país, pegou todos de surpresa e proibiu o WhatsApp de começar a operação. A desconfiança logo recaiu sobre o PIX e o medo de que um serviço com 130 milhões de usuários tirasse o brilho do novo sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, que estava assando no forno. Outros desconfiaram que o BC ficou incomodado com o poder que a Cielo teria ao ser a única empresa de maquininhas, no lançamento, a fazer parte do projeto. Também houve especulação sobre a pressão para os bancos, que não estavam com suas tecnologias prontas para além do PIX, conseguirem se adaptar ao WhatsApp, e que teriam pedido firmeza do BC. Se algum ou outro desses motivos foi preponderante, é difícil saber. Mas, por acaso ou não, exatamente no dia em que o PIX começou a funcionar oficialmente em todo o Brasil, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, anunciou que WhatsApp “em breve” vai iniciar sua operação.
Num primeiro momento, o serviço será autorizado a apenas operar no modo P2P, ou seja, de pessoa para pessoa. Ou seja, empresas ficam de fora. O BC também anunciou que está em conversas com outras Big Techs, como o Google, para que passem a intermediar pagamentos. A grande aposta é que estas empresas se tornem iniciadoras de pagamentos, uma nova modalidade de instituição regulada pelo BC cujas regras foram lançadas há um mês pela autoridade. Essa inclusive deve ser a rubrica com a qual o WhatsApp será enquadrada. O iniciador de pagamentos não fica com o dinheiro, por isso, as regras regulatórias são mais brandas. Eles servem apenas como um instrumento para o pagamento.
Assim, uma pessoa que usa o WhatsApp pode transferir dinheiro para uma outra pessoa sem precisar entrar no aplicativo do seu banco, bastando apenas o numero do cartão. Num primeiro momento, entretanto, o usuário terá de ser cliente também do parceiro do iniciador. Ou seja, no caso do WhatsApp, a pessoa só poderia fazer transferências para clientes do Banco do Brasil, Nubank ou Sicoob. Em meados do ano que vem, no entanto, segundo João Andre Pereira e Mardilson Queiroz, do BC, todos os bancos serão obrigados a receber pagamentos via iniciadores. Qualquer um que tenha 1 milhão de reais de capital já pode pedir para ser um iniciador de pagamentos no BC e a expectativa é que as análises durem muito menos tempo do que outros tipos de autorização, que levam pelo menos um ano para receberem o aval.
Quando o WhatsApp anunciou sua estreia no meio de pagamentos, ainda não existia a figura do iniciador de pagamentos. E tampouco o PIX. Passados cinco meses, o PIX estreia com o cadastro de chaves feito por mais de 30 milhões de pessoas físicas. A expectativa é de que o WhatsApp faça sua estreia já como uma instituição integrada ao PIX. Mundialmente, a empresa ainda não tem uma forma consolidada para rentabilizar o negócio e o sistema de pagamentos é um dos caminhos com o qual pretende começar a gerar resultado.
Há cerca de duas semanas, a empresa que pertence ao Facebook, foi surpreendida com a aprovação das autoridades indianas para começar suas operações por lá. No Brasil, apesar desta sinalização do BC, o negócio só funciona, em termos de rentabilidade, se estiver atrelado a vendas feitas por empresas via WhatsApp, utilizando o sistema das maquininhas da Cielo ou outra adquirente, já que o WhatsApp receberá um percentual da operação.
A expectativa dentro do WhatsApp é que essa modalidade de pagamentos se inicie somente no próximo ano. A Cielo desenvolveu uma tecnologia feita especialmente para a operação com o WhatsApp e será fornecedora da empresa. A dúvida agora é se outras empresas já estão prontas para fornecerem tecnologia similar ou se o BC fez alguma exigência nesse sentido. Analistas também esperam que os outros bancos, que estavam no projeto original e tinham feito testes com o WhatsApp, mas que desistiram no meio do lançamento, agora voltem para a plataforma.
Erramos: ao contrário do informado, o parceiro do WhatsApp é o Sicredi e não o Sicoob. Texto já corrigido.