Convidado do fórum Amarelas ao Vivo para discutir as razões pelas quais as reformas educacionais falham, o advogado Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, tem um diagnóstico: falta um olhar para a base, para dentro da sala de aula. “No Brasil, a gente acreditou que se colocássemos as crianças na escola, elas aprenderiam. Isso não foi verdade”, disse na entrevista conduzida pelo redator-chefe de VEJA Fábio Altman.
“A gente olhou muito pouco para a complexidade do que é garantir a educação de uma criança. Achou-se que apenas garantir infraestrutura seria suficiente. O problema é o que acontece dentro de sala de aula. Se o professor não souber ensinar, não adianta”, avalia.
“O país tem escolas públicas muito boas e, na média, outras com muitas dificuldades. O mesmo acontece nas escolas privadas. Uma parte da elite acha que porque colocou na escola particular, o filho terá educação de primeiro mundo, mas não é assim”, afirma Mizne, que elege a educação básica como prioritária para ser objeto de uma reforma.
Como início de uma mudança, ele vê como necessária a verdadeira implementação da Base Nacional Curricular Comum. O segundo passo deve ser o investimento na formação de professores. “Isso significa mexer em salários, condições de trabalho e enfrentar privilégios.”
Ao citar como exemplos as experiências de países como Chile, Vietnã e Singapura, o advogado demonstra que o foco deve estar na aprendizagem. “Muitas reformas falham, porque, no debate que o país faz, as discussões ficam nas esferas de poder e na mídia, sem olhar para a base. Quando a gente começa a fazer isso de maneira sistemática, a gente colhe resultados.”
Ele ainda não vê a pauta da educação como prioritária para a sociedade, que deve assumi-la como uma questão de Estado e não de governo. “Tolera-se greve em universidades por meses sem aula. Mas se falta combustível, vira mobilização nacional. Estamos dando baixo valor à educação.”