O contato com estudantes sempre existiu na vida de Flávia Roberta Alves Costa, mas não como professora. Nas galerias de arte, ela explicava aos visitantes, muitas vezes vindos de colégios da região, como cada obra se interligava com a vida e o cotidiano deles nas mais diferentes formas. Quando iam embora, no entanto, o sentimento era o de que estava faltando alguma coisa. “Eu me apegava às turmas e tinha vontade de explorar mais conhecimentos com eles. Mas as poucas horas de visitação não permitiam que eu fizesse isso”, afirma. Agora, Flávia é professora de artes do 6º ano da Escola Municipal Divino Espírito Santo, no Recife.
Os anos em que trabalhou nas galerias lhe renderam a ideia de um projeto que aprofunda a abordagem do tema indígena – muitas vezes tratado com superficialidade nas escolas brasileiras. “Quando comecei o trabalho, descobri que era muito difícil tratar do tema indígena porque todos os projetos traziam reproduções. Não adianta passar tinta no rosto e fazer sons de índio. Eu não queria simplesmente reproduzir, mas refletir sobre esses povos e as questões de identidade”, afirma Flávia.
O primeiro desafio do trabalho foi encontrar registros de imagens desses índios em acervos. “Não encontrei material suficiente para levar para a sala de aula. Como aqui em Pernambuco existem comunidades indígenas, não faria sentido eu pesquisar com meus estudantes os índios do Amazonas, tão distantes de nós”, afirma a professora. Surgiu assim uma brecha para iniciar uma vasta pesquisa. Com uma amiga historiadora, Flávia escreveu um projeto para a Lei de Incentivo à Cultura sobre um levantamento da produção artística de quatro comunidades da região.
Os objetos catalogados por Flávia foram expostos em sala de aula para que os alunos debatessem a pluralidade dentro da cultura indígena. “Depois de uma longa reflexão, concluímos que ser índio é praticar os ritos de sua cultura, mesmo que ele esteja inserido na nossa sociedade, use roupas como as nossas e tenha celular”, conta a professora.
Para complementar a experiência, Flávia chamou representantes da comunidade Fulni-ô para visitar o colégio e quebrar a imagem de “índio pré-histórico”. “Foi uma troca incrível de conhecimento. Os estudantes se interessaram muito e fizeram várias perguntas sobre a vida de um indígena. A interação foi tão boa que eles jogaram futebol juntos e os índios ensinaram uma dança aos estudantes”, afirma. Nas oficinas, eles ainda usaram a arte contemporânea para pintar no corpo palavras que descrevessem sua cultura: força, resistência e fé.
O assunto, que já era tão interessante aos olhos das crianças, tornou-se ainda mais mágico quando descobriram que muitos eram netos ou bisnetos de indígenas. A tática de sensibilização adotada pela professora teve grande impacto na sede de aprender de seus pupilos. “Quando fomos ao Museu Homem do Nordeste, os alunos trocaram muitos conhecimentos com a monitora. Ela ficou impressionada com o conhecimento deles sobre aqueles povos, seus objetos e manifestações artísticas. Essa troca não tem preço”, conta a professora. Segundo ela, depois do projeto, seus alunos têm orgulho de dizer que são descendentes de índios.
Com a iniciativa, Flávia garantiu um lugar entre os dez melhores professores do ano pelo Prêmio Educador Nota 10, promovido pelas fundações Victor Civita e Roberto Marinho. Ela também tem a chance de ser eleita Educador do Ano na cerimônia que acontece no dia 30, em São Paulo.
Conheça os dez indicados
Adriane Gallo Alcântara da Silva
Assis – SP
Cristiane Pereira de Souza Francisco
Araraquara – SP
Denise Rodrigues de Oliveira
Novo Hamburgo – RS
Di Gianne de Oliveira Nunes
Lagoa da Prata – MG
Diogo Fernando dos Santos
Pindamonhangaba – SP
Elisângela Dell-Armelina Suruí
Cacoal – RO
Flávia Roberta Alves Costa
Recife – PE
Gislaine Carla Waltrik
União da Vitória – PR
Luana Viegas de Pinho Portilio
Embu das Artes – SP
Rosely Marchetti Honório
São Paulo – SP