Jovens que valem ouro
Estudantes brasileiros conquistam prêmio em torneio mundial de engenharia e mostram que estão no mesmo nível de alunos estrangeiros
A experiência que um grupo de 12 alunos da escola particular St. Paul’s, em São Paulo, teve ao participar de um campeonato de engenharia automotiva no exterior, mostrou o potencial que o Brasil tem no que diz respeito à tecnologia e inovação. Liderada pelos estudantes do ensino médio Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, de 18 anos, e Freddy Rabbat Neto, de 17, a equipe foi inscrita, em maio deste ano, na competição de origem inglesa Greenpower, que engaja alunos em uma corrida de carros elétricos.
Em cinco meses, eles e seus colegas enfrentaram um grande desafio: desenvolveram um carro para competir na Inglaterra contra 134 equipes. O resultado do comprometimento veio por meio da primeira colocação para o país no quesito projeto de engenharia. “Foi um resultado muito importante para nós, pois competimos com escolas europeias e americanas que já tinham mais de dez anos de experiência no desenvolvimento desses veículos”, diz Carlos Alberto.
Ainda pouco conhecido no Brasil, o projeto Greenpower existe desde 1999 na Inglaterra. Com o passar dos anos, começou a envolver eliminatórias em escolas e universidades de outros países, como Estados Unidos, Portugal e Polônia. A ambição de instituições de ensino brasileiras de participar do projeto nasceu há cerca de três anos, porém, todas esbarravam na falta de recursos. Neste ano, no entanto, o grupo encabeçado pela dupla Carlos Alberto e Freddy Rabbat Neto arregaçou as mangas para dar vida ao projeto. Chamado de Lion Racing BR, o grupo competiu na categoria F24+ (estudantes de 16 a 25 anos), a mais disputada.
Na competição, a organização fornece o motor elétrico e a bateria. Cabia aos alunos, então, desenvolver e testar o carro no Brasil em poucos meses angariar recursos para participar do programa em outubro, na Inglaterra. Com o apoio da escola, a equipe, então, se organizou e dividiu as funções para conseguir parceiros. Para as ideias de engenharia, o time contou com o apoio dos especialistas da CAOA Montadora, com Marcio Alfonso, engenheiro-chefe e Wellington Ortiz Jr., engenheiro consultor, além da Edag, empresa alemã especializada em soluções de mobilidade, com filial no ABC Paulista. Já os testes do carro e as adaptações finais foram feitos no campo de provas da montadora CAOA (produz utilitários e SUVs da Hyundai), em Anápolis, Goiás. A logística para a Europa ficou por conta da parceria com a DHL.
Como prova de que uma gestão eficiente traz resultados, o grupo concluiu a corrida em 22º lugar, além de chegar na primeira colocação da categoria de projeto de engenharia. “Foi um resultado excepcional pelo pouco tempo para desenvolver e testar a estrutura tubular e a carenagem que envolve o carro”, conta Ortiz. “Conhecendo o circuito, poderemos ter um resultado melhor em 2018.”
Mais que uma competição entre estudantes, o projeto é uma oportunidade única de eles terem a experiência de trabalhar em equipe, como se fossem uma empresa. Diante do resultado, o grupo sonha, agora, em conseguir apoio para trazer o modelo da iniciativa britânica ao Brasil. E os líderes Carlos Alberto e Freddy Robbat já traçam planos para desenvolver no Brasil uma fundação com objetivos semelhantes aos do Greenpower. “A ideia é começar com faculdades de engenharia e colégios de origem estrangeira, mas no futuro envolver escolas particulares e públicas, num projeto de engajamento científico, sustentável e de inclusão social”, afirma Carlos Alberto.
Se depender da Edag, os jovens terão todo apoio. “Sem dúvida, o programa inglês Greenpower é um laboratório para os amantes de engenharia que buscam alternativas sustentáveis”, explica Márcio Santos, gerente da EDAG.
A expectativa dos jovens é a de tirar o projeto, ainda embrionário, do papel já no próximo ano. A ideia é aplicar o que eles aprenderam no Greenpower para contatar empresas e instituições interessadas a fim de conseguir o suporte necessário. São jovens como eles que vão construir o futuro que o país precisa.