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Explosão de Dance Monkey, de Tones and I, mostra poder do TikTok para hits

A australiana foi de cantora de rua ao sucesso mundial com dancinhas viralizadas na rede chinesa e 1,18 bilhão de visualizações no YouTube

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h43 - Publicado em 31 jul 2020, 06h00

Há três anos, em uma dessas irresponsáveis decisões que só os jovens são capazes de tomar, a australiana Toni Watson abandonou o entediante trabalho de vendedora em uma loja nos arredores de Melbourne, na Austrália, para viver de música. O plano não era bom: comprar uma van e morar dentro dela por um ano, enquanto viajava pelo balneário de Byron Bay, onde ganharia algum dinheiro, com sorte, tocando nas ruas. Fã de basquete e muito tímida, Toni usava imensas jaquetas esportivas coloridas e escondia o rosto atrás de bonés de abas largas. No repertório, estava uma composição própria, Dance Monkey, música eletrônica de batida repetitiva e refrão chiclete. Sempre que ela tocava, reunia uma pequena multidão ao redor. Ninguém ali sabia ainda, mas tempos depois a música se tornaria a número 1 em mais de vinte países. Descoberta por um olheiro em 2019, Toni foi convidada a assinar contrato com uma grande gravadora. Já no mês seguinte, estourou.

Aos 19 anos e sob o nome artístico de Tones and I (“Os Tons e eu”), Toni hoje celebra o sucesso em todas as frentes. O estouro de Dance Monkey foi potencializado pela rede social TikTok, na qual os jovens se divertem fazendo as mais criativas dancinhas para a música, e também no YouTube, onde ela publicou um clipe em que se fantasia de velhinho e dança em um asilo. O vídeo ostenta 1,18 bilhão de visualizações, impondo-se como o quarto mais visto na plataforma em 2019. Além disso, soma 1,7 bilhão de execuções totais no Spotify. Foi a oitava música mais ouvida pelos brasileiros no Spotify nos primeiros seis meses deste ano, conseguindo a façanha de quebrar a hegemonia do sertanejo e do funk no Top 10. A única outra estrangeira a figurar na lista foi Dua Lipa, com Don’t Start Me Now, em sexto lugar.

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No TikTok, que se tornou por excelência uma vitrine de lançamentos de músicas, a cativante e grudenta Dance Monkey praticamente preencheu todos os requisitos para viralizar. A batida é excelente para fazer coreografias e a voz de Toni é levemente desafinada e aguda, como se tivesse saído de um desenho. É a trilha sonora perfeita para os vídeos curtos e criativos que os usuários postam na plataforma. Até o momento, a música já foi executada cerca de 2 bilhões de vezes nos vídeos caseiros postados na rede chinesa.

A explosão de Dance Monkey ainda não foi suficiente para que Tones and I emplacasse outro hit. Ela já botou nas ruas o EP The Kids Are Coming, com seis faixas, porém nenhuma delas chegou perto do fenômeno. Artistas de um hit só sempre existiram — a diferença é que agora eles são turbinados em velocidade supersônica pelas redes. Os casos recentes mais notórios foram do rapper sul-coreano Psy, de Gangnam Style (3,72 bilhões de visualizações no YouTube), e do porto-riquenho Luis Fonsi, de Despacito (até hoje o recordista, visto 6,88 bilhões de vezes). Ainda é cedo para dizer se Tones and I fará parte do pessoal que não foi além de um sucesso solitário, ou se conseguirá vencer essa etapa e se juntar a outros artistas jovens também projetados nas redes sociais, como Billie Eilish (18 anos, cinco Grammy) e Lizzo (32, três Grammy). Seja lá o que o destino reservar para ela, a lição da história já está dada: daqui em diante, é bom pensar duas vezes antes de ignorar aqueles músicos que tocam na calçada e passam o chapéu por uns trocados. O tom do sucesso pode estar bem ali.

Publicado em VEJA de 5 de agosto de 2020, edição nº 2698

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