Oscar: campanha milionária de ‘Roma’ dá à Netflix indicação inédita
Investimento colocou o filme autobiográfico de Alfonso Cuarón, feito para o streaming, nas premiações mais importantes da indústria cinematográfica
Roma, apenas o quinto longa na história do cinema a ser indicado tanto ao prêmio de melhor filme quanto ao de melhor filme estrangeiro do Oscar, é um fenômeno menos misterioso do que parece. Filmado em preto e branco, falado em espanhol e quechua, com pouco mais de duas horas de duração, é a primeira produção da Netflix a disputar a principal categoria do prêmio. O longa, aliás, lidera a disputa com A Favorita, ao concorrer a dez estatuetas no total.
Questões afetivas e humanitárias são bem-vindas em prêmios de cinema, mas Roma tem arrebatado indicações e troféus – são mais de 50 pelo mundo até agora – por razão mais imperiosa. A Netflix investiu alto na campanha promocional do filme, mais até do que na produção do longa, de acordo com a imprensa americana. Fala-se em pelo menos 20 milhões de dólares destinados pela empresa apenas para colocar Roma nos principais páreos da indústria cinematográfica, devidamente esbanjados em festas de divulgação e material promocional enviado aos votantes da Academia de Hollywood.
Roma é uma produção para streaming. De contornos afetivos, conta a história da babá real do diretor mexicano Alfonso Cuarón, que fez questão de imprimir o olhar da infância, ingênua, portanto, sobre a desigualdade social entre a população de origem indígena e os mexicanos brancos nos anos 1970 na Cidade do México.
É um tapa de luva de pelica da Netflix na indústria cinematográfica, que resiste ao modelo de produção do canal de transmissão; no ano passado, o Festival de Cannes declarou não reconhecer como cinema títulos que não sejam exibidos em tela grande. Mas a campanha de Roma, além de milionária, é estratégica: o filme também chegou a ser levado para algumas salas de cinema, sem muito alarde. No Brasil, em algumas sessões fora do eixo cultural, em capitais como Teresina e Fortaleza.