Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Se não pode vencê-lo, una-se a ele: o Ocidente se rende à fofura do K-pop

Os ídolos certinhos da música jovem coreana são cortejados por estrelas como Lady Gaga e John Legend e dão até seus primeiros passinhos na política

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h58 - Publicado em 10 jul 2020, 06h00

Nos anos 50, os coreanos viveram uma guerra fratricida que dividiu o país em uma metade capitalista e a outra, comunista. Ainda que permaneçam em eterna tensão com a Coreia do Norte, do famigerado Kim Jong-un, os prósperos e liberais sul-coreanos hoje se engalfinham em uma batalha muito mais alegre e colorida. O objetivo dela é conquistar o coração e mente dos jovens em todo o mundo por meio da música. Desde 2012, quando o rap­per Psy invadiu as rádios com a música Gangnam Style, que tem hoje 3,68 bilhões de visualizações no YouTube, o K-pop, o pop coreano, ganhou notoriedade global. Ao contrário das previsões de que seria só um modismo exótico, o fenômeno não apenas segue firme nos rankings das plataformas de streaming e muito barulhento nas redes sociais: o K-pop agora faz o entretenimento do Ocidente se curvar a seu sucesso — com reflexos, inclusive, nas causas políticas do momento.

+ Compre o livro K-Pop – Além da sobrevivência

Dois grupos estão na linha de frente dessa luta pela supremacia no mercado de música mundial: o septeto masculino BTS e o quarteto feminino Blackpink. Em novembro de 2019, com a música Ddu-du Ddu-du, as meninas entraram para o seletíssimo clube do bilhão de visualizações no YouTube, do qual fazem parte nomes como Taylor Swift, Shakira, Katy Perry e Maroon 5. As integrantes do Blackpink, com idade entre 23 e 25 anos, foram também uma das grandes atrações do descolado Festival Coachella, nos Estados Unidos. Já o BTS foi a sensação da festa do Grammy, no início do ano, em apresentação ao lado do rapper Lil Nas X. A sedução coreana se repete no Brasil. Em 2019, o BTS atraiu quase 85 000 pessoas a dois shows lotados no Allianz Parque, em São Paulo. O culto é tão fervoroso que fãs ficaram acampados por meses na porta do estádio.

GettyImages-1140692367.jpg
PARCERIA - O BTS, com a americana Halsey: todos querem “colar” no fenômeno. (Christopher Polk/NBCU/Getty Images)

No mais recente desdobramento desse avanço irresistível, os artistas ocidentais renderam-se aos fatos: se não é possível vencer o K-pop, o jeito é juntar-se a ele. As cantoras Lady Gaga e Dua Lipa gravaram com o Blackpink, e o BTS reuniu-se com astros como Halsey, Nick Minaj e Charli XCX. Até John Legend, com seu R&B adulto, fez dueto com a cantora Wendy, de outro grupo feminino juvenil made in Korea, o Red Velvet. Além das parcerias, há ao menos uma experiência que busca copiar a bem-sucedida fórmula do país asiático, o Now United (confira o quadro à dir.).

ASSINE VEJA

Vacina contra a Covid-19: falta pouco
Vacina contra a Covid-19: falta pouco Leia nesta edição: os voluntários brasileiros na linha de frente da corrida pelo imunizante e o discurso negacionista de Bolsonaro após a contaminação ()
Clique e Assine

Estima-se que existam hoje em atividade cerca de 200 grupos de K-pop, em sua maioria gerenciados por quatro grandes empresas de entretenimento: JYP, SM, YG e Big Hit. Elas praticamente dominam o mercado e transformaram o K-pop em uma poderosíssima arma de propaganda cultural patrocinada pelo governo sul-coreano — o tão falado “soft power”. Como grande parte das músicas é cantada no idioma local, já é possível observar um efeito curioso: em todo o mundo houve um aumento na procura por cursos do desafiador idioma coreano. A estratégia, vale lembrar, tem um pé na música e o outro no cinema, com resultados igualmente notáveis — vide a premiação do filme Parasita, do diretor Bong Joon-ho, no Oscar.

Continua após a publicidade

+ Compre o livro BTS: A Ascenção do Bagntan

O K-pop é uma indústria altamente especializada e, como tal, há pouquíssimas coisas improvisadas em sua linha de produção. Tudo é milimetricamente planejado. A escolha dos idols (forma como os cantores são chamados) se dá por meio de concorridas seletivas promovidas pelas produtoras. Há até cursinhos preparatórios para as provas. Montado o grupo, a vida pessoal dos artistas passa a ser observada de perto pelas empresas, que proíbem relacionamentos amorosos indesejados, regulam as opiniões que eles emitem em redes sociais, controlam as entrevistas para a imprensa e bancam até cirurgias plásticas. As letras são escritas por uma elite de compositores, e as coreografias são exaustivamente ensaiadas.

Com tanto controle, os hábitos ou opiniões controversas dos idols só são expostos conforme a conveniência. Ativismos radicais, então, nem pensar. As boas ações dos artistas se resumem a doações financeiras para entidades filantrópicas. Mas essa postura sofreu uma guinada, ainda que tímida, nas últimas semanas. O BTS anunciou a doação de 1 milhão de dólares para o Black Lives Matter, e pediu aos fãs que apoiem o movimento. É um engajamento que faz sentido na lógica de risco zero do K-pop: afinal, quem vai ser contra a luta antirracismo? Mas, ainda assim, é um engajamento.

Continua após a publicidade
RED-VELVET-567.jpg
PODEROSAS - O grupo Red Velvet: a cantora Wendy (no centro) fez dueto com John Legend na música Written in the Stars. (SM Entertainment/Divulgação)

Tornar-se uma peça de destaque na engrenagem cobra seu preço. A exigência da perfeição, que nas sociedades orientais já é sufocante, não raro revela-se insuportável para os idols do K-pop — com consequências trágicas como o suicídio. No mês passado, Yohan, do grupo TST, foi encontrado morto, aos 28 anos. No fim de 2019, outros três artistas também morreram nas mesmas circunstâncias. Além da pressão para encaixarem-se num figurino, os jovens cantores enfrentam outro drama tipicamente coreano. Num país que oficialmente continua em guerra com o Norte, os rapazes têm de cumprir um serviço militar de 21 meses antes de completar 28 anos. Por isso os grupos masculinos de K-pop têm prazo de validade. Jin, integrante do BTS, deverá desfalcar o grupo até dezembro, quando atingirá a idade-limite, e Suga, em março de 2021.

+ Compre o livro Blackpink: as rainhas do Kpop

Continua após a publicidade

Se os idols são tolhidos em sua individualidade, o mesmo não pode ser dito dos fãs. Indiferentes às restrições dos artistas, eles se organizam para promover manifestações políticas. A mais ruidosa ocorreu no mês passado, por meio do novo app-sensação entre os jovens, o TikTok. Por lá, eles confirmaram presença em um comício de Donald Trump em Tulsa, Oklahoma — o objetivo, cumprido com louvor, era pregar uma peça no presidente, já que ninguém compareceu. O episódio prova que o K-pop é capaz não só de galvanizar milhões de jovens, mas de transformá-los em massa pensante com alto poder de ação. Com soldados tão aguerridos (e atrevidos), a música coreana vai se expandindo pelo planeta.

VEJA RECOMENDA | Conheça a lista dos livros mais vendidos da revista e nossas indicações especiais para você.

Publicado em VEJA de 15 de julho de 2020, edição nº 2695

Continua após a publicidade

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

Se não pode vencê-lo, una-se a ele: o Ocidente se rende à fofura do K-popSe não pode vencê-lo, una-se a ele: o Ocidente se rende à fofura do K-pop
K-Pop – Além da sobrevivência
Se não pode vencê-lo, una-se a ele: o Ocidente se rende à fofura do K-popSe não pode vencê-lo, una-se a ele: o Ocidente se rende à fofura do K-pop
BTS: A Ascenção do Bagntan
Se não pode vencê-lo, una-se a ele: o Ocidente se rende à fofura do K-popSe não pode vencê-lo, una-se a ele: o Ocidente se rende à fofura do K-pop
Blackpink: as rainhas do Kpop
logo-veja-amazon-loja

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.