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Cultura

A MAGIA EM SEIS PASSOS

O diretor Bill Condon e a equipe de ‘A Bela e a Fera’ contam detalhes sobre a produção do filme

por Mariane Morisawa, de Los Angeles Atualizado em 13 nov 2017, 12h42 - Publicado em
17 mar 2017
15h39

Em relação às outras versões live-action de animações clássicas da Disney, pode-se dizer que A Bela e a Fera é a que se manteve mais fiel. Malévola, por exemplo, contou a história da Bela Adormecida sob o ponto de vista da vilã. Cinderela abdicou das canções, assim como Mogli – O Menino Lobo. A Bela e a Fera não tem medo de se assumir um musical: as canções originais de Alan Menken e Howard Ashman estão todas de volta, e Menken compôs, em parceria com Tim Rice, três novas músicas para o filme estrelado por Emma Watson. Elas serviram como guias para a equipe liderada pelo diretor Bill Condon. Também havia uma diretriz geral: “A primeira decisão que tomamos é que o filme não se passaria numa época genérica de conto de fadas, mas especificamente em 1740, quando a história foi publicada pela primeira vez. E que seria na França”, disse o diretor em entrevista ao site da Veja. “Tudo tinha de ser tão realista quanto possível. Mesmo a animação, os elementos de computação gráfica, não deveriam parecer animação.” Ainda assim, os desafios enfrentados foram imensos. O site de VEJA conversou com o diretor Bill Condon e membros da sua equipe para desvendar o processo de produção.


O castelo

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(//Divulgação)

O estilo rococó foi perfeito para um castelo enfeitiçado. “Não é preciso fazer muito, e ele já ganha vida”, disse Katie Spencer, responsável pela decoração dos sets. “O rococó tem um efeito 3D. Uma moldura de espelho parece estar avançando na sua direção.” O estilo foi aplicado no visual dos objetos animados, como o relógio Horloge e o candelabro Lumière. “Numa animação, especialmente de 25 anos atrás, dava para ser mais fofinho, menos realista”, afirmou Spencer. A maldição do castelo não era tão aparente na produção de 1991. Aqui, deu para mostrar os efeitos do feitiço conforme o tempo passa. “Com o rococó, tudo é muito exuberante, mas as formas são muito orgânicas”, disse Sarah Greenwood, designer de produção. “Então nossos designs vão evoluindo, como se vê no gelo que recobre a construção, na arquitetura e nas esculturas, como os dragões nas escadas.” Muita coisa foi feita do zero, como os lustres de cristal com altura de um ônibus de dois andares, ou a redoma de cristal que guarda a rosa enfeitiçada. A redoma foi feita pela Swarowski, mas a gravação no vidro curvo foi realizada por um dos dois únicos artesãos capazes de fazer isso na Europa. “Por ser curvado, era muito difícil, poderia quebrar e só tínhamos três”, disse Katie Spencer. “Foi fascinante ver esse nível de talento.”


A música

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(//Divulgação)

A diretriz básica de ser mais realista e situar a história no tempo e no espaço influenciou o compositor Alan Menken, que criou novos arranjos para as músicas originais e compôs, em parceria com Tim Rice, três novas canções para A Bela e a Fera. Bill Condon queria mostrar um pouco mais por que os personagens estavam naquela situação, explorando algumas perguntas, como por que Maurice e sua filha Bela saíram de Paris e foram morar na vila, o que aconteceu com a mãe de Bela e por que a Fera ficou tão fria e insensível a ponto de causar a maldição. “Essas perguntas fizeram com que a gente pensasse em momentos em que a música poderia ajudar na história”, disse Menken. Assim, ele criou três novas canções. Cores dos Momentos (How Does a Moment Last Forever, em inglês) traz Maurice construindo uma caixinha de música e lembrando do passado. “Começa parecendo o som de uma caixinha de música e depois ganha elementos franceses, com acordeons”, disse Menken. Doce Visão (Days in the Sun em inglês) é uma canção de ninar, em que os objetos, a Bela e a Fera pensam sobre o que perderam. “Isso nos deu oportunidade de mostrar o pai da Fera, por exemplo”, contou Menken. Por fim, Nunca Mais (Evermore) é uma canção para a Fera. “É para o momento em que ele deixa Bela partir, apesar de amá-la”, disse o compositor. Alguns versos antigos e inéditos criados por Howard Ashman também foram incorporados em Gaston e A Bela e a Fera. “Faziam sentido e deram um frescor às músicas, é como se todos as estivessem ouvindo pela primeira vez.”

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Os números musicais

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(//Divulgação)

Fazer um musical tem seus segredos, descobriu a equipe de arte. “Não tinha me ocorrido que tudo tinha de ser feito exatamente na batida da música”, disse Katie Spencer. No número de abertura, Bela, nas ruelas da vila, era preciso dimensionar tudo para que os figurantes pudessem cantar, dançar e se movimentar, com espaço suficiente para Emma Watson brilhar. Em Gaston, numa taverna, as mesas de madeira escondiam um segredinho: na verdade, eram de metal. “Era preciso para aguentar o peso de 20 homens pulando em cima delas”, contou Spencer.


As roupas

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(//Divulgação)

Jacqueline Durran, vencedora do Oscar de figurino em 2013 por Anna Karenina, foi buscar inspiração na França do século XVIII para criar as roupas com realismo. O clássico vestido azul e branco de Bela na animação, por exemplo, é cheio de detalhes. “Se fosse liso, como no desenho, não teria o efeito desejado, não pareceria ser da época”, disse. O corpinho foi costurado a mão, e o vestido tem uma combinação de padrões e estampas, para ganhar uma riqueza de textura. Em vez das delicadas sapatilhas da versão original, Bela usa botas. “Emma Watson queria que a personagem fosse mais ativa. Ela é inventora, trabalha, precisava ter sapatos práticos”, contou Durran. “Por essa mesma razão, ela usa bloomers (calça bufante) por baixo da saia, para poder suspendê-la sem o risco de mostrar as pernas. E tem bolsos no avental, para carregar suas coisas.”

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A Fera

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(//Divulgação)

Criar o personagem para o filme foi um grande desafio. Bill Condon repete seu mantra: “Queríamos que fosse realista”. Assim, Dan Stevens, que interpreta a Fera, teve trabalho dobrado. Ele estava no set o tempo inteiro, contracenando com Emma Watson, usando enchimentos de músculos, para fazê-lo ficar maior, recobertos de lycra cinza com marcadores para ajudar a equipe de animação, além de uma toca, e sobre pernas-de-pau para ficar na altura certa. “Foi um pesadelo para minhas panturrilhas”, disse o ator. Depois, só suas expressões faciais foram capturadas, numa técnica chamada Movaware. Stevens teve de refazer todas as cenas, sem movimentar o corpo, apenas a face, relembrando o que tinha feito em cada uma. Depois, essas expressões foram transformadas em animação. “Foram muitos meses definindo cada detalhe. Primeiro, construímos a versão mais assustadora possível, testando quanto aquela boca poderia abrir quando ele estava espantando os lobos que atacam Maurice e Bela”, disse Bill Condon. “Mas tinha de ser coerente com os momentos mais delicados, como quando ele está dançando. Levou muito tempo para chegar ao resultado final.”


O baile

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(//Divulgação)

Como reproduzir – e superar – a cena mais famosa da clássica animação? “Primeiro, transformamos numa valsa de verdade, mudando o tempo da música, e criamos uma coreografia”, disse Bill Condon. “A ideia foi pegar o espírito do que já estava lá no filme original, como aquela tomada do teto, traduzindo para algo que era nosso. Para mim essa cena sempre significou que o coração de Bela estava se elevando. Nossa versão disso é quando a Fera a levanta e de repente ela não está mais naquele espaço, está nas estrelas.” O maior desafio, no entanto, foi recriar o vestido amarelo. “Emma não queria que fosse muito princesa, com corselete. Seu desejo era que fosse mais simples, que pudesse se mover, correr, cavalgar”, disse Jacqueline Durran. A figurinista criou uma versão bem calcada no estilo da época, depois uma mais moderna. Tentou tecidos diferentes. “A única coisa de que tínhamos certeza era que seria amarelo.” Mesmo assim, foram testados cerca de 20 tons diferentes. No fim, a tentativa de ser fiel ao estilo da época não funcionou neste caso. “Não parecia correto para Bela”, disse a figurinista. De cetim de organza, o vestido tem uma saia em camadas, para que ficasse leve e esvoaçasse conforme ela rodopia no salão. Uma armação ajuda a dar um balanço à saia. Aqui, também imperam os detalhes. “Folhas de ouro foram impressas no vestido e também há cristais Swarowski para dar um brilho extra. E o corpinho era uma rede, com camadas, para que tivesse um aspecto meio de pluma.”

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