Era pouco mais de meio-dia da sexta-feira 25 de janeiro quando a copeira Alessandra Paulista de Souza, de 43 anos, deixou o serviço na pousada Nova Estância, em Brumadinho (MG), para ir almoçar. Ela morava a menos de 100 metros do trabalho e todos os dias ia para casa preparar a comida para a filha Lays, de 14 anos, e para a irmã Thalyta Cristina de Oliveira Souza, de 15 anos, que mora com ela há quatro meses, desde o falecimento da mãe.
Já em casa, Alessandra foi para a cozinha organizar o almoço. Foi quando ouviu um barulho muito forte — como se fosse um helicóptero pousando sobre o seu teto. Ao perceber que havia algo de errado acontecendo, gritou para as meninas saírem correndo. Não houve tempo para mais nada. O mar de lama invadiu e cobriu totalmente a residência, prensou Alessandra contra o fogão e a arrastou junto com a casa em questão de segundos.
Alessandra e Thalyta sobreviveram. Lays continua desaparecida.
Thalyta é a jovem que aparece sendo resgatada da lama por um helicóptero com a ajuda de dois jovens moradores da comunidade do Córrego do Feijão, Jefferson e Michel.
O supervisor de serviços gerais José Antônio Soares Pereira, de 46 anos, marido de Alessandra, cunhado de Thalyta e pai de Lays, também era funcionário da pousada Nova Estância, mas estava em Belo Horizonte a trabalho no momento da tragédia. Ainda muito abalado, ele conta que por volta das 13h30 recebeu uma ligação de um amigo preocupado, querendo saber onde ele estava. “Eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Esse meu amigo ligou, achando que eu estava na pousada trabalhando”, conta. Ao saber da tragédia, voltou correndo para a cidade e encontrou as cenas de destruição. Ele se desesperou, em busca de informações sobre a filha, a esposa e a cunhada.
Alessandra foi encontrada nas margens do lamaçal, depois de ter conseguido sair do barro com a ajuda dos dois rapazes do Córrego do Feijão. Thalyta precisou ser resgatada de helicóptero, pois fraturou a perna e a bacia, e já não tinha mais forças para se manter boiando na superfície. Pereira estima que as duas ficaram na lama por cerca de quinze minutos até serem resgatadas.
“O Jefferson e o Michel são dois anjos nas nossas vidas. Eles salvaram minha esposa e minha filha Thalyta (José a considera como filha, pois tem a sua guarda desde que a sogra morreu). Se não fossem eles, com certeza elas não teriam sobrevivido. Elas não tinham mais forças para lutar contra a lama”, afirma.
Alessandra e Thalyta foram encaminhadas para o hospital João XXIII, onde permanecem internadas. Segundo a assessoria de imprensa do local as duas irmãs estão com o quadro de saúde estável, mas não há previsão de alta. De acordo com Pereira, Thalyta permanece na UTI e precisa de mais cuidados por causa das fraturas.
No sábado 26, um dia após a tragédia, a equipe do hospital colocou Alessandra em uma cadeira de rodas e a levou até a UTI para poder abraçar a irmã. “O encontro das duas foi muito emocionante. Desde então, o hospital tem feito isso todos os dias. É muito importante para elas”, afirma Pereira, que passa todos os dias no local ao lado da esposa e sobrinha e só dorme poucas horas por dia, em um hotel que a Vale está pagando para as vítimas.
A busca por sobreviventes continua, mas Pereira não espera mais por boas notícias. “Não tenho mais esperança, estive no local e é só destruição. Não tem mais como encontrar vida ali”, diz. Ainda assim, ele quer que as equipes de resgate localizem a menina. “Eu preciso encontrar o corpo da minha filha para que ela descanse em paz e para que eu tenha paz na minha vida.”