Quanto esforço vale participar da Campus Party, o maior evento de tecnologia do Brasil? Para o estudante Ewerton Tavares, 32 anos, morador de Ji-Paraná, em Rondônia, vale encarar uma viagem de 51 horas de ônibus, dormir poucas horas por dia em uma barraca com colchão furado e até largar para trás a mulher grávida de sete meses.
Tavares tem uma empresa de automação e, atualmente, também está tentando complementar os conhecimentos cursando análise e desenvolvimento de sistemas no Instituto Federal de Rondônia. Foi por meio da faculdade que conseguiu a oportunidade de ir à Campus Party. “Eles disponibilizaram uma vaga para universitário e decidi concorrer. Passei no processo seletivo e o Instituto concordou em custear meu transporte até aqui.”
Durante a viagem de ônibus, foram apenas algumas paradas, só para comer e ir ao banheiro. O banho era cronometrado. Ainda assim, considerando a dificuldade e o custo de viajar de avião de Ji-Paraná até São Paulo, era a melhor opção.
O transporte foi por conta da faculdade. Mas ele teve de arcar com as despesas do acampamento e alimentação. Tavares diz que teve de economizar ao máximo nos últimos meses, parando de sair para comer fora nos finais de semana. A esposa demorou um pouco para se adaptar à mudança, ele diz, mas foi compreensiva. “Ela sabia o quanto eu queria. Não se importou de sacrificar algumas coisas para isso.”
A primeira noite após a jornada, no entanto, não foi tão fácil quanto o imaginado. A barraca, cedida pelos próprios organizadores da Campus Party, tem forro fino e deixa entrar muita luminosidade quando amanhece. Para amenizar a claridade, Tavares pendura a toalha de banho em cima do teto – o que também ajuda a identificar o abrigo temporário, uma vez que todas as barracas são iguais por fora. Ainda assim, o colchão de ar, que está furado, atrapalha um pouco o sono. “Tenho de enchê-lo todas as noites antes de dormir. Senão, ele vai murchando e acordo no chão”, brinca.
Para combater o cansaço da noite mal dormida, Tavares toma um banho logo cedo. “Pelo menos, o chuveiro e os banheiros são muito bons. São limpos e nunca tem fila”, conta. Ao sair da ducha, deixa o acampamento e vai para a área de exposição, um ambiente aberto onde ficam alguns palcos de palestras, estandes de patrocinadores e dezenas de fileiras de mesas cobertas por computadores. Nessas bancadas, os campuseiros podem usar seus equipamentos para conectá-los à internet – são 40 gigabytes por segundo, disponíveis 24h por dia, durante os seis dias de evento.
Junto aos colegas que o acompanharam na caravana de Rondônia até São Paulo, Tavares aproveita para sentar e navegar um pouco pela rede enquanto aguarda a próxima atração: uma palestra com Caito Maia, fundador da Chilli Beans, sobre empreendedorismo e inovação.
Passada a maratona de eventos, Tavares sabe que dormirá muito pouco nos seis dias do evento. Ele começou o dia às 8h e sabe que não vai dormir antes das 2h da madrugada. “Aqui, a gente não pode parar um minuto. Tento aproveitar ao máximo, porque não sei quando vou ter a oportunidade de voltar”, diz, enquanto mostra o aplicativo do evento no celular. Nele, os “campuseiros” podem selecionar as atividades da programação das quais planejam participar e montar sua própria agenda. “Tem coisas que quero fazer que vão até tarde, 2h da manhã. É cansativo, mas prefiro não correr o risco de me arrepender por algo que deixei de fazer.”