Sonho ou realidade?
A movimentação dos principais clubes do país pela criação de uma liga de futebol independente para organizar o Campeonato Brasileiro, hoje sob chancela da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ainda é chamada de “operação embrionária” nos bastidores, muito embora dirigentes e executivos olhem como caminho sem volta a viabilização de um novo modelo de negócio já para a próxima temporada.
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O otimismo tem explicação: o momento de maior instabilidade política da CBF que dá ainda mais força para clubes pleitearem autonomia. O clima propício teve início no último dia 6 de junho, quando a Comissão de Ética da entidade afastar o presidente Rogério Caboclo por acusação formal de assédio sexual e moral a uma funcionária da entidade.
Conversada há quase dois anos, a iniciativa teve pontapé formal de partida nove dias depois do escândalo, após carta assinada por 19 dos 20 clubes da Série A (a exceção foi o Sport por estar em processo eleitoral), e começa a ganhar corpo com encontros mensais. Até o momento, foram dois: o primeiro no Rio de Janeiro, em 15 de junho, e o segundo em São Paulo, desta vez com 40 clubes pela presença dos 20 integrantes da Série B, em 24 de junho. O próximo acontecerá em Brasília, no dia 22, e deve contar com a presença de figuras políticas.
O temor nos bastidores é ver a nova liga fracassar e a ação conjunta se dissolver a exemplo do Clube dos 13, movimento fundado na década de 1980 por Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco.
O grupo, que se expandiu com o passar do tempo e chegou a defender um maior poder em negociações coletivas, também cogitou a criação de uma liga independente, mas sucumbiu após a saída do Corinthians, em 2011, por decisão do então presidente Andrés Sanchez. Em registro no livro O Futebol Como Ele É (Editora Grande Área), do jornalista Rodrigo Capelo, o dirigente conta ter sido influenciado por Ricardo Teixeira, principal mandatário da CBF, que prometeu, em caso de vitória de Kleber Leite, passar o poder desejado aos clubes.
Sanchez relatou que, na ocasião, o processo não se deu pela derrota nas eleições do Clube dos 13 para a chapa liderada por Fabio Koff e Juvenal Juvêncio. A falta de união dos dirigentes, segundo conta, dificultou. “Chamei o Juvenal e o Fábio Koff, que Deus os tenha, e expliquei tudo. Eles não quiseram abrir mão do poder”.
“No futebol, não dá mais para o investidor confiar em um grupo ou dirigentes, mudamos de cenário. Precisamos de uma real estruturação, ninguém vai colocar dinheiro se não oferecermos algo palpável. A legislação hoje do futebol não dá segurança. Temos um longo caminho ainda”, explicou a PLACAR o presidente do Juventude, Walter Dal Zotto.
Gestão compartilhada entre os clubes, início com aporte bilionário de empresas, mudanças na regra de rebaixamento envolvendo as séries A e B, a criação de um tribunal independente, a divisão de receitas e a adoção a um modelo semelhante ao dos campeonatos Espanhol ou Inglês são só alguns dos assuntos discutidos até aqui. O presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, uma das lideranças do projeto, considera a decisão “irreversível” e diz que os dirigentes nordestinos, que respondem por mais de 1/4 das Séries A, B e C, mantêm posição conjunta sobre este e outros temas.
“O momento exige um avanço econômico e de organização. Temos uma cumplicidade muito grande entre os nordestinos, claro, dentro dos limites da rivalidade. Quando divergimos de um assunto como as competições nacionais, debatemos primeiro e depois mandamos um posicionamento único. Quando um compreende o problema do outro, ficamos mais solidários e unidos.”
Não é mais só o sonho, dizem os dirigentes. A nova liga dos clubes tem tudo para sair do papel.