Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

O espanto com o diorama em Paris, invenção que não é teatro e não é ópera

Quem apresentou a novidade foi um sujeito de quem não se para de falar: Louis- Jacques-Mandé Daguerre

Por Da Redação Atualizado em 4 jun 2024, 12h20 - Publicado em 3 set 2022, 07h00

O texto a seguir faz parte da edição especial de VEJA em torno dos 200 anos da independência. A ideia é tratar as notícias como seriam publicadas naquela semana de 7 de setembro de 1822 – tudo o que viria a ocorrer depois, portanto, ainda não aconteceu. É um passeio histórico ao cotidiano de dois séculos atrás.

Para quem anda aborrecido com a belezura de Paris, e flanar já não parece ser suficiente, eis aí uma novidade: o diorama. Antes, contudo, convém uma rápida pincelada etimológica. A expressão bebe do grego: “di” significa através; e “orama”, aquilo que é visto, uma cena. Um monumental diorama acaba de ser aberto na capital francesa, obra do pintor, cenógrafo, físico e inventor Louis-Jacques-Mandé Daguerre, de 34 anos, em parceria com o pintor Charles-Marie Bouton, de 41. O aparelho, instalado dentro de um teatro próximo à Ópera, tem produzido espanto genuíno, como se fosse um passe de ilusionismo.

Numa sala imensa, com capacidade para 350 pessoas, há uma tela de tecido com a pintura de paisagens invariavelmente campestres. Por meio de um jogo de luzes, que brotam de aberturas à frente ou atrás do pano, e também de tochas, o desenho parece estar animado — ora de modo sutil, ora de maneira dramática. São quinze minutos de um espetáculo jamais visto. O truque: em razão da intensidade luminosa e da dança dos feixes, parece haver algum movimento. Numa das sessões a que o enviado de VEJA teve acesso, via-se uma cena verdejante do Vale de Goldau, com chalés alpinos românticos à margem de um lago plácido. E então, de repente, o céu ficou plúmbeo, nuvens escuras apareceram e deu-se uma tempestade na cena original. “Ou là là! Qu’il est beau!” foi a frase mais ouvida. Bonito mesmo, apesar de um tanto incômodo, porque a vida não é assim. E é o caso de indagar: como reagiria o príncipe regente do Brasil, que tem crises epilépticas, diante de engrenagem tão agitada, a arte transformada em sabe-se lá o quê?

Daguerre, o criador do entretenimento, já não anda pelos bulevares sem ser abordado. Virou uma estrela em Paris — e, como não é tolo nem nada, já estuda abrir um diorama em Londres no ano que vem. Imparável, estudioso e genial, ele se aproximou de um inventor de Châlon-sur-Saône, Joseph Nicéphore Niepce. Como dois jovens adolescentes, andam debruçados numa série de experiências químicas e ópticas (e Daguerre, especialmente, parece deslumbrado com a fama). Pessoas próximas à dupla dizem estar desenvolvendo um método que permita colar uma imagem qualquer a um suporte metálico. É brincadeira pueril que não os levará a lugar nenhum — como se fosse agradável aos olhos esse tipo de recurso. Os dioramas já são inovadores o suficiente. Não falta muito para que um lunático saia por aí dizendo ser capaz de fazer um trem a vapor pintado numa parede, dentro de um recinto, entre quatro paredes, avançar na direção do público — como se fosse real. Em tempo de guerras, de tantos conflitos, não custa sonhar acordado, apesar do desconforto. O século XIX, que mal começou, será movimentado.

Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2022, edição especial nº 2805

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.