DOHA – Falta a Lionel Messi um título de Copa do Mundo que possa instalá-lo no panteão a que pertencem poucos jogadores na história, como Pelé e Maradona. Na noite de sábado, no belíssimo estádio Ahmad Bin Ali, em Doha, ele deu mais um passo – miúdo e decisivo como sempre – a caminho do topo. A estatística costuma ser traiçoeira no futebol, um gol aos 45 do segundo tempo tem o dom de destruí-la, mas cabe aqui uma licença, porque os números acumulados pelo canhoto argentino até a partida de hoje iluminam uma trajetória inigualável de nosso tempo.
+ Messi fez contra a Austrália sua partida de número 1000, aos 35 anos. São 778 com o Barcelona, 53 com o PSG e 169 com a seleção argentina. São 789 gols. A título de comparação: Pelé chegou ao milésimo jogo com 30 anos e, aos 28, bateu no gol 1000, como o planeta inteiro sabe e homenageia. No Catar, apenas Daniel Alves e Cristiano Ronaldo já entraram mais de mil vezes em campo.
+ Messi disputou a partida de número 23 numa Copa. Igualou-se ao italiano Paolo Maldini. Se jogar as quartas contra a Holanda, o que deve acontecer, dá as mãos a Miroslav Klose, com 24. Passando, faria a a partida 25 na semifinal e a 26 na final ou na disputa do terceiro lugar. Chegaria, portanto, a 26 no total – uma a mais que o atual recordista, o alemão Lothar Matthaüs.
+ Com os gols marcados contra a Arábia Saudita e a Polônia, na primeira fase, e o de hoje, cravou um outro feito: balançou a rede 16 anos depois de seu primeiro gol em Copas, em 2006, contra a seleção de Sérvia e Montenegro. Esse hiato de 16 anos é o maior de todos os tempos.
+ Ele faz parte de um seleto grupo – há outros cinco, apenas – que disputaram cinco Copas: Antonio Carbajal e Rafael Márques, do México, o italiano Buffon, Matthaüs e Cristiano Ronaldo.
+ Tem mais: Messi conta agora 9 gols em Copas, um a mais que Maradona.
Ultrapassada a barreira da frieza estatística, pode-se dizer que elas emolduram uma condição especial: poucos jogadores são tão longevos e permaneceram tanto tempo em patamar tão alto quanto Messi. Ele não se cansa e não nos cansamos dele. Outros recordes virão – mas o que realmente vale ouro, e o faria eterno como Maradona, é a Copa do Mundo. Como Messi antevê as coisas e na dele segue em frente, bola colada aos pés, pode-se apostar que os próximos capítulos de sua novela serão emocionantes – mas a um só tempo simples como a capanga que ele levava no braço esquerdo ao sair do ônibus da delegação pronto para a vitória. Simples como os longos minutos em que fica parado em campo, mão na cintura, enquanto algo ocorre do lado de lá do gramado. Até que ele veja uma brecha antes de todo mundo. Foi o que aconteceu no primeiro gol contra a Austrália. Messi não fez uma partida de brilho permanente, apesar de lampejos espetaculares, mas resolveu a parada no complicado 2 a 1 – e que só não foi para a prorrogação porque o goleiro argentino Martínez fez milagre no último segundo. Haverá mais Lionel Messi.