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A saga nacional da primeira equipe de remo da comunidade de Paraisópolis

Projeto social do Clube de Regatas Bandeirante introduziu a prática do esporte em uma das regiões mais pobres da cidade de São Paulo

Por Da Redação Atualizado em 2 nov 2023, 12h53 - Publicado em 2 nov 2023, 12h18
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  • A região de Paraisópolis, uma das maiores comunidades pobres da cidade de São Paulo, com cerca de 80 mil habitantes, costuma chamar atenção no noticiário por problemas como a criminalidade. Os bailes funk, regados a som altíssimo e consumo de drogas, estão entre as raras alternativas de lazer para os jovens dali. O campo de futebol construído em meio aos becos e vielas representava até pouco tempo atrás uma das únicas opções para a prática de esportes, até que atracou por lá o projeto concebido para criar a primeira equipe de remo olímpico com meninos e meninas do local.

    A iniciativa conduzida pela equipe técnica do Clube de Regatas Bandeirante, sob responsabilidade do treinador Acácio Lemos, teve início no final de 2022 e, após meses de treinamentos, cinco atletas foram selecionados para disputar no final deste mês a competição para jovens talentos em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, evento que faz parte do circuito oficial da Confederação Brasileira de Remo (CBR).

    Até chegar à condição de brigar pelas primeiras competições nas regatas em terras gaúchas, a guarnição formada em Paraisópolis passou por vários testes e desafios. Como poucos sabiam nadar, a primeira etapa do projeto batizado de “Remando para um Sonho” consistiu em levar o jovens a uma academia para aprenderem a se comportar na água caso o barco vire.

    Depois, num ritmo de três aulas por semana, eles passaram a fazer o trajeto de ida e volta dentro de uma van partindo da comunidade onde moram até a raia olímpica da Universidade de São Paulo. Ali, finalmente, puderam empunhar os remos e ter as primeiras experiências com os equipamentos usados nas provas. Em muitas ocasiões, dividiram com jovens atletas de clubes de elite como Paulistano as tranquilas águas da raia olímpica da USP, construída nos anos 70 a partir da várzea do Rio Pinheiros.’

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    Atletas de Paraisópolis em treino de Four Skiff (Divulgação/VEJA)

    Até o início do século XX, o remo olímpico era uma das modalidade mais populares do Brasil, atraindo multidões que lotavam as arquibancadas para conferir de perto as regatas disputadas em locais como a Baía Guanabara, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, as competições ocorriam no Rio Tietê e acabaram sendo transferidas para a raia da USP por causa da poluição. Aos poucos, o esporte perdeu espaço na preferência nacional para o futebol. O número de praticantes jovens vem diminuindo ao longo das últimas décadas, o que explica a escassez de vitórias do país nas competições mais importantes do mundo. Uma das exceções em termos de desempenho em nível internacional é Lucas Verthein, atleta do Botafogo-RJ, que acaba de conquistar a medalha de ouro no skiff nos Jogos Pan-Americanos do Chile, quebrando um jejum de 36 anos sem triunfos do país nessa competição.

    Para voltar aos bons tempos, o remo brasileiro precisa urgentemente revelar novos talentos.  Os cinco jovens selecionados dentro do projeto “Remando para um Sonho” do Clube de Regatas Bandeirante querem surpreender em Porto Alegre e mostrar que, com o devido incentivo,  campeões podem surgir dos lugares mais improváveis, como os becos e vielas de uma das comunidades mais pobres de São Paulo.

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