Brasil x Suíça: chance ideal para consolidar fim da ‘Neymardependência’
Em duelo complicado no 974 Stadium, Brasil pode garantir classificação antecipada e dar padrão a um time que já sabe viver sem seu craque
DOHA – A seleção brasileira se acostumou a jogar sem sua principal estrela, Neymar, constantemente lesionado nos últimos anos, mas pela primeira vez parece estar efetivamente pronta para manter um alto nível de atuação e de confiança sem o camisa 10. Nesta segunda-feira, 28, o Brasil encara a boa equipe da Suíça, no 974 Stadium, a partir das 13h (de Brasília) podendo garantir vaga antecipada às oitavas de final da Copa do Mundo do Catar e consolidar o fim da chamada “Neymardependência”, caso confirme a evolução de jovens talentos como Vinicius Junior, Raphinha, Lucas Paquetá, Richarlison, Antony, Rodrygo, Martinelli, entre outros.
Na véspera, Tite não revelou os substitutos de Neymar e do lateral Danilo, ambos com lesões no tornozelo que devem tirá-los, no mínimo, de toda a primeira fase. Na direita, o versátil Eder Militão deve ficar com a vaga, mas tem a concorrência do veterano Daniel Alves. Já no meio-campo, a tendência é o eleito seja o volante Fred, de modo que Lucas Paquetá (recuado na estreia) volte a atuar mais adiante. Rodrygo, Bruno Guimarães e Everton Ribeiro são alternativas. Quem quer que seja o novo “10”, a expectativa é de manutenção do padrão.
Neymar é, desde 2010, quando tinha apenas 18 anos, a grande referência da equipe. Com ele ausente ou mal fisicamente, o Brasil fracassou na missão do hexa em 2014 e 2018. Viver sem ele, porém, não é novidade para Tite: em 2019, o Brasil conquistou o título da Copa América sem o craque, que estava machucado. O nível de exigência do Mundial será, evidentemente, muito maior, mas já não há motivo para desespero como por exemplo o que abateu o grupo na goleada para a Alemanha na semifinal de oito anos atrás, quando atletas entraram em campo com mensagens para o craque e deixaram o Mineirão com sete gols na bagagem.
“O Brasil é dependente de todo grande talento, e o Neymar é um extraordinário talento”, afirmou Tite, na véspera, para depois completar: “outros jogadores estão surgindo em uma geração que é impressionante. Têm uma serenidade e calma, daqui a pouco vai aparecer a finta de um lance do Antony, uma assistência do Vini, uma criatividade do Richarlison na hora de finalizar, um cabeceio do Pedro, o Jesus ia fazer o gol no lance do segundo tempo, isso vai aparecer. Eles têm essa capacidade criativa. O Rodrygo corre que parece que tem a bola grudada no pé…”, disse o técnico, que em nenhum momento demonstrou nervosismo com a situação.
Sem o camisa 10, cresce a responsabilidade de Vinicius Junior, de 22 anos, cujas características de ousadia e drible lembram as do Neymar do início de carreira – sem tanto refinamento técnico, mas com semelhante personalidade. Após boa atuação na estreia, com participação direta nos dois gols marcados por Richarlison, o atacante do Real Madrid se mostrou confiante na recuperação de seu colega e ídolo, mas, questionado se estaria preparado para assumir o protagonismo, foi contundente. “Estamos sempre preparados, mas ele vai [voltar a] jogar”, disse, na zona mista do Lusail.
O inchaço no pé de Neymar, que sofreu uma lesão ligamentar lateral no tornozelo direito, já diminuiu consideravelmente a comissão da CBF já vê como certo o retorno do craque caso o Brasil avance às oitavas. De qualquer forma, a fartura do elenco já permite ao torcedor sonhar com o hexa mesmo sem sua estrela. Nos bastidores, tem sido lembrado o caso de Amarildo, que substituiu Pelé, lesionado no início da Copa de 1962, e ajudou Garrincha e companhia a faturar o bi no Chile. Quem poderia ser o novo “Possesso”?
Um adversário incômodo
Sem tanta pressão depois do convincente triunfo na estreia sobre a Sérvia, com atuação elogiada pela imprensa estrangeira, o Brasil reencontra uma seleção que costuma lhe causar problemas. Em Copas, a equipe pentacampeã nunca venceu a Suíça em dois encontros: 2 a 2 em 1950 e 1 a 1 em 2018. Décima quinta colocada no ranking da Fifa, do qual o Brasil é líder, a seleção europeia manteve a base, se classificou nas Eliminatórias terminando à frente da Itália, com a melhor defesa da competição (só dois gols sofridos), e tem um elenco forte, ideal para testar a vida sem Neymar.
Em seu terceiro Mundial, o atacante canhoto Xherdan Shaqiri, de 31 anos, exaltou o elenco do Brasil, mas demonstrou confiança na entrevista coletiva da véspera. “Todos os jogadores têm pontos fortes e fracos. É difícil escolher um único jogador, eles são muito rápidos, têm um jogo muito atraente, mas também têm fraquezas, e vamos tentar aproveitá-las. Eles jogaram bem na estreia, mas sabemos como nos comportar diante de grandes equipes”, afirmou o artilheiro com passagens por Bayern e Liverpool, hoje no Chicago Fire, dos EUA.
O técnico Murat Yakin manteve a mesma linha e minimizou o peso da ausência de Neymar. “Minha equipe está em forma e pronta. Vamos enfrentar um adversário que também tem jogadores fortes no banco. Eles podem definitivamente organizar duas ou três equipes diferentes e não ficarão mais fracos por causa disso.”
Sem nenhum desfalque entre os titulares, a Suíça conta com atletas renomados, como o goleiro Yann Sommer, do Borussia Mönchengladbach, volante Granit Xhaka, do Arsenal, e seu centroavante Breel Embolo, do Monaco, autor do gol da vitória na estreia diante de Camarões, seu país de nascimento. Ruben Vargas, do Augsburg, é outra importante arma pela ala esquerda, o que pode ajudar a explicar a provável escalação de Militão, mais firme na defesa do que Daniel Alves.
Em seus últimos cinco jogos, a Suíça acumulou quatro vitórias, contra Portugal, Espanha, República Checa e Camarões, e apenas uma derrota, em amistoso contra Gana. Caso consiga furar a defesa europeia e levar os três pontos, o Brasil garante matematicamente a vaga nas oitavas faltando ainda um jogo contra os camaroneses para o fechamento do grupo G.
Prováveis escalações:
Brasil: Alisson, Éder Militão (Daniel Alves), Marquinhos, Thiago Silva e Alex Sandro; Casemiro, Lucas Paquetá e Fred (Rodrygo); Raphinha, Richarlison e Vinicius Junior.
Suíça: Sommer; Widmer, Schar, Akanji e Rodriguez; Freuler, Xhaka; Shaqiri, Sow e Vargas; Embolo.