Vai começar a festa. Tão presentes nas últimas semanas nas manifestações políticas, as bandeiras brasileiras e camisas da seleção canarinho agora começaram a ganhar as ruas e janelas no contexto esportivo. A Copa do Mundo de futebol do Catar, a primeira a ser realizada no Oriente Médio e no fim do ano, tem início no próximo dia 20, com a seleção anfitriã encarando o Equador. O Brasil, como sempre, inicia a disputa esperançoso, e com um talentoso grupo de atletas.
O técnico Tite revelou a lista de convocados no último dia 7, na sede da CBF, no Rio. Se historicamente o evento costuma provocar gritaria por causa das ausências (veja o quadro abaixo), desta vez o alvoroço se deu por uma presença de difícil compreensão: Daniel Alves, 39 anos, e passagens inglórias por São Paulo e Pumas, do México, nos últimos anos. Atualmente, o veterano lateral-direito vinha treinando no time B do Barcelona para retomar a forma física. “Os laterais do nosso time não atuam como pontas, são construtores, e a qualidade técnica que ele empresta nesse sentido é impressionante”, justificou Tite, que deu de ombros para os críticos. “Não vim aqui para agradar as pessoas nas redes sociais. Não tenho essa pretensão e nem quero.” Como se sabe, a linha entre convicção e teimosia é tênue e possivelmente Daniel Alves, reserva de Danilo, nem entre em campo para tirar a prova. Se não por ele, o recorde de atleta mais velho a vestir a camisa do Brasil em Mundiais, que pertence a Djalma Santos — 37 anos em 1966 —, deverá ser batido no Catar por Thiago Silva, absoluto na zaga aos 38.
Não houve, portanto, nenhuma ausência clamorosa, daquelas que dominam os papos de botequim. Seria essa uma prova de que o Brasil não forma mais craques em abundância como antigamente, um reflexo do aumento de vagas (de 23 para 26 convocados) ou ainda um sinal de que Tite tem feito boas escolhas? As faltas mais comentadas foram as de Roberto Firmino, do Liverpool, um atacante experiente e versátil, capaz de atuar como meia, e ainda de Gabriel Barbosa, o Gabigol, decisivo ídolo do Flamengo que jamais caiu nas graças do técnico gaúcho — ao contrário de seu parceiro Pedro, que de tão feliz com o chamado aproveitou para pedir a namorada, Fernanda Nogueira, em casamento no mesmo dia. Gabriel Martinelli, veloz atacante de 21 anos do Arsenal, foi uma surpresa, mas nem tanto.
Convém destacar um flagrante desequilíbrio na lista. As três vagas extras foram preenchidas na frente: são nove atacantes, incluindo Neymar, que vem atuando mais recuado, e apenas quatro zagueiros e seis meio-campistas. Ainda que o imaginário popular nos induza a celebrar um Brasil ultraofensivo, é provável que parte da artilharia nem sequer seja usada. Em um torneio de tiro curto, em que lesões e suspensões vêm atormentando a equipe nas últimas edições, talvez fosse mais prudente preencher outros setores de alternativas.
Soberano nas Eliminatórias sul-americanas (catorze vitórias e três empates, com quarenta gols marcados e só cinco sofridos), líder do ranking da Fifa e com a maior parte do elenco em boa forma em seus clubes, o Brasil entra como um dos candidatos mais fortes. Até mesmo o gênio argentino Lionel Messi, que jogará seu quinto Mundial em busca do troféu que lhe falta, aponta o Brasil como favorito, ao lado da França. São bons presságios e nada mais. Quando a bola rolar, Neymar, Tite e companhia sabem que o tombo é sempre proporcional à expectativa: é hexa ou decepção. A estreia acontece no dia 24 contra a Sérvia, às 16h (horário de Brasília), no Estádio Lusail.
Publicado em VEJA de 16 de novembro de 2022, edição nº 2815