Não é raro que a violência de torcedores provoque incidentes graves. Quando ela é associada, então, ao despreparo da polícia, escancara-se o caminho para tragédias. No primeiro dia de outubro, o Estádio Kanjuruhan, em Malang, na Indonésia, foi palco de uma carnificina. Logo depois da derrota por 3 a 2 do time da casa, o Arema FC, para o Persebaya Surabaya, um grupo de fanáticos invadiu o gramado para protestar e os agentes de segurança reagiram com o uso de gás lacrimogêneo, o que é sempre uma temeridade em espaços lotados. Deu-se o caos completo: as pessoas tentaram fugir e boa parte ficou presa, o que resultou em pisoteamentos e sufocamentos. Ao todo, foram 125 mortes, 32 delas de crianças, a mais nova de apenas 4 anos, e dois policiais, além de mais de 300 feridos. O tumulto seguiu do lado de fora do gramado, com carros da polícia queimados. “É uma tragédia que vai além da compreensão”, definiu o presidente da Fifa, Gianni Infantino. O presidente do país, Joko Widodo, cobrou investigação e ordenou o pagamento de uma indenização imediata aos familiares das vítimas, em valor equivalente a 16 000 reais. A federação local baniu para sempre dois dirigentes do Arema FC e o responsável pela organização da partida. Quatro jogadores brasileiros estavam em campo. “Não há palavras para descrever a tristeza que todos nós que vivemos e amamos o futebol estamos sentindo”, postou nas redes sociais Silvio Júnior, autor do gol da vitória dos visitantes. No fatídico jogo, todos perderam.
Publicado em VEJA de 12 de outubro de 2022, edição nº 2810