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Gareth Bale prova por que é o verdadeiro Príncipe de Gales

Atacante responsável por levar a seleção europeia de volta à Copa após 64 anos vibrou como nunca no gol de empate diante dos EUA

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 nov 2022, 19h04 - Publicado em 21 nov 2022, 18h50

DOHA – As raríssimas e hesitantes arrancadas em nada lembravam a imparável estrela do Tottenham por quem o Real Madrid pagou 100 milhões de euros em 2014. Seu semblante de impotência, na verdade, recordava justamente o melancólico fim de sua passagem pelo gigante espanhol. Gareth Bale, 33 anos, vinha tendo uma noite para esquecer, até que, pela enésima vez, brilhou a estrela do maior craque nascido no País de Gales, nação que comemorou como título o empate em 1 a 1 contra os EUA, no estádio Ahmad Bin Ali, na abertura do Grupo B da Copa do Mundo do Catar. 

Se no Real Madrid Gareth Bale saiu sem deixar saudades, caçoado por seu apreço por golfe ou pelo fato de não se arriscar no idioma local, em sua terra natal o craque é adorado, um verdadeiro herói nacional, e não é pra menos: graças a seu habilidoso pé canhoto, a nação britânica conseguiu retornar a uma Copa do Mundo depois de 64 anos.

Na véspera do duelo, Bale deu a medida de sua satisfação. “Assistir à Copa sempre foi um pouco decepcionante para mim porque não via o País de Gales jogar. Fazer parte disso é incrível, todo mundo sonhava com isso há muito tempo. Isso serve para inspirar mais crianças em nosso país a jogar futebol e, quem sabe, no futuro termos mais uma grande geração classificada”, completou o atacante, que tinha como referência Ryan Giggs, lenda do Manchester United, outro craque canhoto que passou toda a carreira lutando, sem sucesso, por levar o país ao grande palco. 

Bale é hoje mais popular no país do que o próprio Príncipe de Gales, William, o filho do rei Charles III, que deu uma enorme bola fora ao dizer para quem torceria na Copa. “No futebol torço pela Inglaterra e no rúgbi por Gales. Me acostumei a não ver Gales nas grandes competições”, cravou o herdeiro do trono britânico, antes de voltar atrás e dizer que torceria por ambos. Bale não ganhou moral apenas pelos gols que levaram o time a boas campanhas na Euro e à Copa, mas também por seu comprometimento e demonstrações de amor ao país. No auge de seus problemas no Real Madrid, Bale chegou a provocar seus críticos ao posar com uma bandeira com sua “lista de prioridades”: “Gales, golfe e Real Madrid; nesta ordem.”

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Em campo, 80 minutos de impotência

Bale tenta guiar Gales a um milagre -
Doloroso: por 2/3 do jogo, Bale era a cara da frustração (Alexandre Battibugli/Placar)

O olhar atento a ele comprova: Bale é pacato, quase inexpressivo sem a bola. Ostenta a braçadeira de capitão muito mais por sua excepcional carreira do que propriamente por seu comportamento em campo. Do telão, porém, foi possível ver o astro segurando a emoção e cantando forte o hino nacional, seis décadas e meia depois de o país se despedir da Copa da Suécia, no dia em que Pelé marcou seu primeiro gol em Mundiais. A euforia galesa era total. Ao longo de todo o dia, as tradicionais bandeiras com dragões e camisas vermelhas estavam por toda a parte da cidade. Muitos dos uniformes levavam o número 11 do ídolo.

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O time europeu sofreu bastante no primeiro tempo. Quis o destino que justo no dia em que Bale debutou em Copas, o herdeiro de um dos mais simbólicos membros do time de lendas ausentes dos Mundiais abrisse o placar. Timothy Weah, de 22 anos, “fez justiça” ao pai, o ex-atacante George Weah, ídolo de PSG e Milan, eleito melhor do mundo em 1995, e hoje presidente de seu país, a Libéria. Parecia que Bale teria u a estreia melancólica. Após o tento de Weah, ajeitou o tradicional rabo de cavalo, depois pôs a mão na cintura, em completa impotência.

Os chutões o procuravam e a torcida gritava seu nome (era difícil distinguir quando os gritos eram de “Bale” ou “Wales”, Gales no idioma local), mas o camisa 11 era presa fácil para a defesa. Frustrado, voltou para marcar, fez falta e se revoltou com a arbitragem ao levar cartão amarelo. No segundo tempo, pediu bolas e até se posicionou bem, mas os cruzamentos nunca lhe alcançavam. Ato contínuo, perdeu uma bola e arrancou para recuperá-la Depois, levantou a torcida com um corta luz seguido de um toque de letra errado. O jogador que encantou o mundo ao mesclar velocidade e incrível faro de gol hoje vive o fim de sua carreira, justamente no futebol dos EUA – recentemente, marcou nos acréscimos o gol que levaria o Los Angeles FC ao título da MLS. Pois Bale é assim, é decisivo mesmo quando não brilha, e esta história se repetiu em Doha.

Aos 35 do segundo tempo, Zimermann cometeu um pênalti infantil no próprio Bale, que pegou a bola, bateu forte, cruzado, e desafogou toda a sua frustração com um memorável grito em direção aos seus súditos. No fim, abraçou seu melhor sócio, Aaron Ramsey, com semblante de alívio. Bateu no peito em direção aos fãs e foi anunciado como o Craque do Jogo no telão. “Ele é verdadeiro Príncipe de Gales”, anunciou o locutor do estádio. Não há como duvidar.

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Alívio: Gareth Bale celebra seu gol no empate com os EUA
Companheiros celebram com Bale o gol de empate (Jewel Samad/AFP)
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