Por que cientistas querem trocar o carro oficial da Olimpíada de Paris
Especialistas publicaram carta aberta com queixa aos organizadores dos Jogos nesta quinta-feira
Um grupo de 120 cientistas, engenheiros e acadêmicos publicou nesta quinta-feira, 11, uma carta aberta com um apelo para que os organizadores da Olimpíada de Paris abandonem o Mirai, da japonesa Toyota, como carro oficial da competição, citando uma suposta violação do compromisso dos Jogos com a agenda verde. O veículo é movido a hidrogênio e, por isso, emite zero carbono do escapamento, daí o motivo da sua escolha para o maior evento de esporte do mundo. Mas há um efeito adverso: 96% do hidrogênio do planeta é derivado de combustíveis fósseis, o que torna carros movidos por essa fonte de energia mais poluentes do que veículos elétricos a bateria (EVs) e apenas ligeiramente melhores para o meio ambiente do que aqueles com motor de combustão.
“Estamos escrevendo para expressar nossa preocupação de que a promoção de um carro a hidrogênio pela Toyota esteja cientificamente desalinhada com a emissão zero e prejudique a reputação dos Jogos de 2024”, escreveram os autores, que incluem pesquisadores das universidades de Cambridge e de Oxford. “A oportunidade continua sendo de redirecionar, e pedimos que você exija que a Toyota substitua o Mirai por um Veículo Elétrico a Bateria como veículo oficial dos Jogos.”
Ao todo, a Toyota forneceu 500 carros Mirai, 10 ônibus movidos a hidrogênio e 1.150 EVs para transportar os atletas olímpicos. Segundo a empresa, o modelo oficial será abastecido por hidrogênio derivado de água e matéria orgânica, gerado a partir de fontes renováveis. Ou seja, funcionará através de energia limpa, de forma a respeitar os protocolos dos Jogos. Os cientistas, no entanto, argumentam que a utilização dos Mirai incentiva a sua compra e, como consequência, aqueles que o adquirirem usarão hidrogênio proveniente de combustíveis fósseis, agravando o já muito preocupante cenário da mudança climática.
As mudanças climáticas tornaram as ondas de calor mortais 35 vezes mais prováveis nos Estados Unidos, no México e na América Central, de acordo com uma pesquisa da organização World Weather Attribution (WWA), publicada no final de junho. De acordo com o estudo, a queima de combustíveis fósseis e outras atividades humanas, como o desmatamento e a agricultura industrializada, são os principais responsáveis pelo aumento da frequência e intensidade do calor extremo. Além disso, a falta de uma ação política significativa para eliminar os combustíveis fósseis tornará as ondas de calor mortais “muito comuns em um mundo 2ºC mais quente”, completou o texto.
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Resistência da Toyota
Um estudo da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) revelou que somente carros de passeio e vans foram responsáveis por cerca de 10% das emissões globais de dióxido de carbono (CO₂) relacionadas à energia em 2022. Maior montadora do mundo, a Toyota é conhecida por apresentar resistência e tentar frear a eliminação gradual dos carros com motor de combustão. É também uma das poucas grandes fabricantes que investem em opções movidas a hidrogênio. Ao mesmo tempo, tem apostado em EVs e em modelos híbridos.
“A mistura de diferentes tecnologias de veículos na frota (das Olimpíadas) reflete a estratégia global multicaminho da Toyota de que a solução certa é necessária para diferentes situações para descarbonizar o transporte dependendo da disponibilidade de energia, infraestrutura e necessidades dos clientes”, rebateu a empresa em comunicado à emissora americana CNN.