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UFC 214: o paciente Demian Maia, enfim, a um passo do cinturão

Prestes a completar 40 anos, brasileiro teve de vencer sete lutas para receber, às pressas, chance de Dana. "Aceitei porque quero muito ser campeão"

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h24 - Publicado em 26 jul 2017, 11h05
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  • Demian Maia, 39 anos, teria motivos de sobra para reclamar dos chefes do UFC. Brasileiro com mais vitórias na história do Ultimate (19), líder do ranking peso-meio-médio (até 77 quilos), o atleta paulistano de fala mansa conseguiu uma incrível sequência de sete vitórias, mas vinha sendo ignorado pelo presidente Dana White nas disputas de cinturão. Demian sabia que merecia uma chance, mas aguardou o reconhecimento praticamente calado. A oportunidade chegou de forma quase ingrata: com apenas cinco semanas de antecedência, foi convidado para a disputa de cinturão contra o campeão Tyron Woodley, em Anaheim, na Califórnia, pelo UFC 214, no próximo sábado, dia 29. O choque inicial deu lugar a resignação e esperança: pelo sonho do título inédito, Demian topou o desafio apesar de todas as adversidades.

    “Minha primeira reação foi de nem saber o que fazer, porque estava muito em cima da hora. Mas pesei algumas coisas. (…) Não sei quando poderia ter outra chance. Faço 40 anos em novembro, uma hora meu desempenho vai começar a cair. Chegamos à conclusão de que era melhor aproveitar a chance a se arrepender de não ter ido”, contou Demian, em São Paulo, no início do mês. Sua luta contra o americano Woodley será a segunda mais importante do badalado evento, que terá mais duas disputas de cinturão: Jon Jones x Daniel Cormier, na luta principal, pelos meio-pesados, e a brasileira Cris Cyborg x Tonya Evinger, pelo inédito cinturão peso-pena feminino.

    Esta não será a primeira oportunidade de Demian. Em 2010, o lutador especialista em jiu-jitsu foi chamado (também às pressas, após problemas com Chael Sonnen e Vitor Belfort) para enfrentar Anderson Silva, ainda pelo peso-médio. Em um duelo marcado por “brincadeiras” de Anderson – que se preocupou mais em debochar de Demian do que lutar – e poucos golpes, Spider manteve o cinturão sob impiedosas vaias em Abu Dhabi. Desta vez, Demian, que encontrou sua melhor performance na categoria abaixo, com 10 vitórias e duas derrotas, diz estar muito mais preparado. “Naquela vez eu era claramente o azarão e não tinha nível competitivo para ganhar do Anderson. Não foi um processo construído como agora, com sete vitórias seguidas. Hoje tenho a consciência que entro na luta com Woodley com 50% de chance.”

    Demian lutou pela última vez em 15 de maio, na vitória por decisão dividida sobre o americano Jorge Masvidal. Já o campeão Woodley não atua desde 4 de março, quando manteve o cinturão diante do compatriota Stephen Thompson. O americano, portanto, teve quase o dobro de tempo para se preparar (147 a 75 dias entre uma luta e outra). Demian, porém, disse estar em boas condições físicas e confiante para o duelo em Anaheim.

    “Nunca é o ideal ter um período de preparação assim, é o camp mais curto de todas as minhas 25 lutas no UFC e logo na mais importante delas. Mas, a partir do momento em que aceitei a luta, porque quero muito ser campeão, tenho de olhar para frente e fazer o melhor. A ‘choramingada’ eu e minha equipe já demos na época, internamente, mas a oportunidade se apresentou desta maneira e a tivemos de agarrar”, disse o atleta formado em jornalismo.

     

    Demian Maia comemora sua vitória no UFC 148, em Las Vegas
    Demian Maia comemora vitória no UFC 148, em Las Vegas (David Becker/AP/VEJA)

    Demian ainda falou sobre um suposto preconceito contra especialistas em jiu-jitsu, a possibilidade de enfrentar a lenda Georges St.Pierre em novembro e metas para os próximos anos:

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    Preparação ‘relâmpago’
    É difícil quantificar, mas, racionalmente, é claro que prejudica. Mas só vou saber depois da luta. Às vezes uma preparação mais curta deixa até mais atento. Em relação ao peso, por incrível que pareça estou bem. Venho fazendo reeducação alimentar, mantenho uma dieta para a vida e não mais para as lutas. Por isso, estou bem perto do peso adequado (77 quilos) e isso não será problema.

    Demora para disputar o título
    Eu acho que demorou porque depende de quem escolhe as lutas. Existe uma concepção de que o americano é melhor para a empresa e de que lutas sem pancadaria são mais chatas… Por mais profissional que seja a empresa, sempre tem pessoas por trás que tomam decisões com base na emoção e não na razão.

    Jiu-jitsu não vende?
    Não é só a questão de saber “vender” a luta ou preconceito com o jiu-jitsu, acho que isso é uma falácia. O Georges St. Pierre, por exemplo, não provoca, leva as lutas para chão e é um dos melhores “vendedores” do UFC. Claro que o grande público prefere ‘porrada’ e que o fato de alguns caras falarem besteira facilita a promoção da luta, mas o principal é dar resultado esportivo. O Conor McGregor, por exemplo, só conseguiu ser o melhor vendedor do UFC porque teve um excelente desempenho esportivo. Claro que ele foi ajudado por uma estratégia do UFC, foi protegido por eles, mas quando ele precisou mostrar desempenho, fez sua parte.

    Georges St. Pierre
    O UFC me convocou, mas já está pensando na luta de novembro, a volta do Georges St. Pierre, que vai repercutir e dar mais dinheiro. Então para eles tanto faz se for eu ou o Woodley contra o GSP. (…) Existe a possibilidade de enfrentá-lo, mas não é nada garantido. E mesmo que fosse não poderia me desconcentrar, não se pode pensar numa luta à frente. As provocações do Woodley são para promover a luta, ele sabe que isso não me afetaria em nada. Mas ficar pensando no St. Pierre poderia atrapalhar, sim, por isso bloqueio isso na minha cabeça.

    Condição física
    Eu me sinto muito melhor, por uma série de fatores, sou muito mais profissional, tenho consistência. É até estranho porque não sinto meu corpo perder performance. Sei que isso um dia vai acontecer, mas não sinto ainda. Independente de ganhar ou perder essa luta, me sinto melhor do que dois anos atrás. O treinamento evoluiu, a medicina, o ser humano vive mais, tem mais atletas mais velhos competindo, é uma evolução do ser humano.

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    Aposentadoria
    Não tenho um plano. Talvez quando perceber que o corpo começar a cair, ou mesmo quando a vontade não for mais a mesma. Adoro ir todo dia para a academia e treinar, é divertido. Mesmo com frio vou feliz treinar. Até brinco com meus filhos perguntando se eles já viram algum pai ir trabalhar de bermuda e mochila. Digo que estou indo brincar e eles dão risada. Acho que luto por mais uns dois anos, não sei… Se conseguir manter mais dois anos em alto rendimento, vou estar mais feliz e mais tranquilo financeiramente para parar.

    Última chance?
    Isso é muito relativo. O mundo é tão maluco que eu posso perder, mas o adversário pode se machucar, eu posso ganhar, enfim, daqui um ano posso disputar de novo. Eu não poderia construir uma sequência de sete lutas, mas poderia vir antes. O próprio Tyron Woodley ganhou duas lutas até disputar o cinturão. Às vezes acontece, não dá para saber.

    UFC 214 – 29 de julho, em Anaheim, nos Estados Unidos

    Card principal:

    Peso-meio-pesado: Daniel Cormier x Jon Jones

    Peso-meio-médio: Tyron Woodley x Demian Maia

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    Peso-pena: Cris Cyborg x Tonya Evinger

    Peso-meio-médio: Robbie Lawler x Donald Cerrone

    Peso-meio-pesado: Jimi Manuwa x Volkan Oezdemir

    Card preliminar:

    Peso-pena: Ricardo Lamas x Jason Knight

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    Peso-casado (63,5kg): Aljamain Sterling x Renan Barão

    Peso-pena: Renato Moicano x Brian Ortega

    Peso-pena: Andre Fili x Calvin Kattar

    peso-palha: Kailin Curran x Alexandra Albu

    Peso-mosca: Eric Shelton x Jarred Brooks

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    Peso-leve: Josh Burkman x Drew Dober

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