Wimbledon: o que explica dois terços dos cabeças de chave não chegarem às oitavas?

O torneio de Wimbledon de 2025 ficará marcado na história do tênis pela queda numerosa de cabeças de chave nas rodadas iniciais. Dos 64 nomes, apenas 20 chegaram às oitavas de final. Dos tenistas top 10 do simples  de homens e mulheres, oito caíram ainda na estreia, fato inédito desde o início da Era Aberta em 1968. Na chave masculina, Sinner e Alcaraz resistem, mas, Zverev e Draper, seus sucessores no ranking da ATP, ficaram para trás. Sabalenka é a única do top 5 restante na competição feminina na grama real. Após os cumprimentos com adversários ‘menos favoritos’, tenistas tentam encontrar explicações para tamanho tombo dos líderes do ranking.

Nas três primeiras rodadas, 44 cabeças de chave foram eliminados dos 64 (32 masculinos e 32 femininos) que iniciaram a competição, sendo 22 homens e a mesma quantidade entre as mulheres. A estreia foi a mais brutal: 13 tenistas da chave masculina caíram, entre eles o terceiro do ranking Zverev e o campeão de Grand Slam Medvedev. Outras dez atletas do feminino também ficaram para trás na estreia, como a segunda e terceira do ranking Coco Gauff e Pegula. A segunda rodada derrubou outros seis no masculino e sete no feminino; e mais três e cinco na terceira rodada, respectivamente. (Confira todos os nomes abaixo)

A mais latente dificuldade é a própria grama. Wimbledon é o único Grand Slam com o tipo de quadra considerado como o mais difícil de se adaptar na modalidade, segundo Coco Gauff. A americana de 22 anos é uma das vítimas da onda, ou tsunami, que tirou os 44 cabeças de chave da competição. A tenista que há um mês se sagrava campeã em Roland Garros ficou para trás ainda na primeira rodada do Major na grama. Em entrevista após sua derrota para a ucraniana Dayana Yastremska por 2 sets a 0, a número 2 do ranking afirmou: “Chegamos à grama e temos 13 dias para mudar tudo, não completamente, porque você sempre tem o seu tênis, mas temos que mudar um pouco a nossa forma de jogar.”

Apesar da frustração, Gauff é certeira com a curta temporada de grama no circuito. Ao todo são cinco semanas de janela para campeonatos logo em seguida de Roland Garros. A campeã na França por exemplo participou de apenas um torneio entre os Majors, em Berlim, em que também caiu na estreia. Portanto, disputou apenas um jogo oficial antes de entrar na grama real do All England Club. A participação, claro, é uma escolha da jogadora e de sua equipe. A brasileira cabeça de chave Beatriz Haddad Maia se inscreveu em três torneios, o máximo possível entre Paris e Londres, e jogou ao todo seis partidas na grama, antes de sua campanha até a segunda rodada.

A imprevisibilidade das quadras, no entanto, é crescente ao longo do campeonato. Mesmo com o preparo cuidadoso dos funcionários do clube de tênis, a natureza da grama não resiste à movimentação de quadra e bolinhas a mais de 200 km/h. O solo já escorregadio fica mais incerto, perde seu verde e ganha cores da terra abaixo. Mesmo não justificando más performances com a raquete, o desgaste gera tombos frustrantes e torna mudanças de direção mais complicadas. Marketa Vondrousova, campeã de Wimbledon em 2023 descreveu o footwork (trabalho de pés em tradução literal) no solo: “Estamos acostumados a deslizar, então damos passos grandes [e depois deslizamos para parar], e na grama é sobre passos pequenos [para parar] e depois recuar.”

Entre os fatores externos únicos da edição deste ano, o calor se destacou nos primeiros dias. A abertura de Wimbledon em 30 de junho foi a mais quente desde 2001, e a temperatura em Londres superou os 30°C. Toalhas molhadas e bolsas de gelo acompanharam os descansos dos tenistas. Na estreia do atual campeão Carlos Alcaraz contra o italiano Fabio Fognini, um torcedor passou mal na quadra central e paralisou o jogo. O espanhol dentro de quadra ofereceu uma garrafa de água para ajudar no socorro.

Além dos fatores externos, a atuação dos tenistas também parte de fatores internos de cada atleta e, claro, seu adversário. Determinar a qualidade de jogo apenas pelo ranking é falho. Francis Tiafoe, atual número 12 do ranking, caiu para Cameron Norrie, atual 61º. Este, no entanto, já atingiu a 8ª posição e foi semifinalista de Wimbledon há três anos. “A grama é uma superfície traiçoeira. O nível está cada vez mais alto. Há pouco tempo, o Cam [Norrie] foi semifinalista aqui, e agora eu o enfrento já na segunda rodada”, disse Tiafoe após sua derrota para o britânico. “Você tem jogadores perigosos assim, além de jovens jogando muito bem. O jogo está muito difícil. Não é mais como antes, quando era possível chegar até o posto de cabeça de chave com certa facilidade.”

O brasileiro João Fonseca é outro que sofreu com a ilusão do ranking. Apesar de não ser cabeça de chave, o carioca entrou como número 54, e encarou o então 143, Nicolas Jarry, na terceira rodada. Novamente, o pior ranqueado prevaleceu e venceu a partida.

Apesar da queda massiva dos cabeças de chave, grandes nomes prevalecem na competição e tem o caminho “mais livre” para levantar o troféu na varanda de Wimbledon. A número do ranking feminino, Aryna Sabalenka segue jogando nas quadras do All England Club. O mesmo para Janik Sinner, líder da lista masculina, e o atual campeão Carlos Alcaraz. Entre os top 10 que restaram, Mirra Andreeva, Iga Swiatek, Taylor Fritz, Novak Djokovic e Ben Shelton quebram as estatísticas de seus companheiros de topo de ranking.

Confira quais tenistas caíram nas três primeiras rodadas de Wimbledon: 

Chave Masculina

• Alexander Zverev (ALE), 3º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Jack Draper (GBR), 4º cabeça de chave – eliminado na 2ª rodada
• Lorenzo Musetti (ITA), 7º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Holger Rune (DIN), 8º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Daniil Medvedev (RUS), 9º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Frances Tiafoe (EUA), 12º cabeça de chave – eliminado na 2ª rodada
• Tommy Paul (EUA), 13º cabeça de chave – eliminado na 2ª rodada
• Jakub Menšík (CZE), 15º cabeça de chave – eliminado na 3ª rodada (para 22º cabeça de chave Cobolli)
• Francisco Cerúndolo (ARG), 16º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Ugo Humbert (FRA), 18º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Alexei Popyrin (AUS), 20º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Tomás Machác (CZE), 21º cabeça de chave – eliminado na 2ª rodada
• Jiří Lehečka (CZE), 23º cabeça de chave – eliminado na 2ª rodada
• Stefanos Tsitsipas (GRE), 24º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Félix Auger-Aliassime (CAN), 25º cabeça de chave – eliminado na 2ª rodada
• Alejandro Davidovich Fokina (ESP), 26º cabeça de chave – eliminado na 3ª rodada
• Denis Shapovalov (CAN), 27º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Alexander Bublik (CAZ), 28º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Brandon Nakashima (EUA), 29º cabeça de chave – eliminado na 3ª rodada
• Alex Michelsen (EUA), 30º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Tallon Griekspoor (HOL), 31º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada
• Matteo Berrettini (ITA), 32º cabeça de chave – eliminado na 1ª rodada

Chave Feminina

• Coco Gauff (EUA), 2ª cabeça de chave – eliminada na 1ª rodada
• Jessica Pegula (EUA), 3ª cabeça de chave – eliminada na 1ª rodada
• Jasmine Paolini (ITA), 4ª cabeça de chave – eliminada na 2ª rodada
• Zheng Qinwen (CHN), 5ª cabeça de chave – eliminada na 1ª rodada
• Madison Keys (EUA), 6ª cabeça de chave – eliminada na 3ª rodada
• Paula Badosa (ESP), 9ª cabeça de chave – eliminada na 1ª rodada
• Elena Rybakina (CAZ), 11ª cabeça de chave – eliminada na 3ª rodada (para outra 23ª cabeça de chave Tauson)
• Diana Shnaider, 12ª cabeça de chave – eliminada na 2ª rodada
• Elina Svitolina (UCR), 14ª cabeça de chave – eliminada na 3ª rodada (para 24ª cabeça de chave Mertens)
• Karolina Muchova (CZE), 15ª cabeça de chave – eliminada na 1ª rodada
• Daria Kasatkina, 16ª cabeça de chave – eliminada na 3ª rodada (para 19ª cabeça de chave Samsonova)
• Barbora Krejčíková (CZE), 17ª cabeça de chave – eliminada na 3ª rodada (atual campeã – para a 10ª cabeça de chave Navarro)
• Jelena Ostapenko (LET), 20ª cabeça de chave – eliminada na 1ª rodada
• Beatriz Haddad Maia (BRA), 21ª cabeça de chave – eliminada na 2ª rodada
• Donna Vekic (CRO), 22ª cabeça de chave – eliminada na 2ª rodada
• Magdalena Frech (POL), 25ª cabeça de chave – eliminada na 1ª rodada
• Marta Kostyuk (UCR), 26ª cabeça de chave – eliminada na 1ª rodada
• Magda Linette (POL), 27ª cabeça de chave – eliminada na 1ª rodada
• Sofia Kenin (EUA), 28ª cabeça de chave – eliminada na 2ª rodada
• Leylah Fernandez (CAN), 29ª cabeça de chave – eliminada na 2ª rodada
• Ashlyn Krueger (EUA), 31ª cabeça de chave – eliminada na 2ª rodada
• McCartney Kessler (EUA), 32ª cabeça de chave – eliminada na 1ª rodada

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