Black Friday: assine a partir de 1,00/semana
Continua após publicidade

A região da Europa que se tornou o paraíso das vinhas velhas

Com a maior quantidade de vinhedos centenários do mundo, Bierzo, na Espanha, vem se consolidando entre os enófilos graças a vinhos frescos

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 17h25 - Publicado em 3 mar 2024, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Para os cidadãos da Roma Antiga, o vinho era uma necessidade diária. Ao expandirem as fronteiras do império pela Europa, a leste e oeste, levaram a tiracolo mudas de parreiras, ferramentas e conhecimento agrícola. Desse modo, ajudaram a disseminar e fortalecer a viticultura tanto em regiões que se tornaram referência na produção de vinho, como Bor­deaux, na França, quanto em outras pouco celebradas, um tanto escondidas dos guias e manuais, mas com história de produção igualmente rica e condições ideais para produzir uma bebida de alta qualidade. Bierzo, em Castilla Y León, no noroeste da Espanha, é um dos nacos que merece visibilidade. Sabe-se haver videiras por lá há pelo menos 2 000 anos, desde que o naturalista Plínio, o Velho (23-79) tratou de descrevê-las. Na Idade Média, a chegada de cistercienses ajudou a promover ainda mais a prática, ampliando as áreas cultivadas e tornando os rótulos locais celebrados na Espanha. A produção, contudo, sofreu com a praga da filoxera, de imensa devastação no século XIX. O resultado foi a irrelevância.

    Agora, contudo, em fascinante movimento — e graças ao trabalho de respeitados enólogos — há rápida recuperação de prestígio. O atual sucesso tem relação direta com a geologia de Bierzo. Há, ali, variedade de solos distintos, o que faz com que brotem pequenos espaços de terra afeitos a modalidades diferentes, como acontece na Borgonha francesa. Cada vinhedo — ou parcela, como ensina o jargão — recebe um nome e tem características próprias. Alguns, localizados em partes mais baixas da Serra dos Ancares, têm textura mais argilosa. Outros exibem maior concentração de minerais como a ardósia. Tudo isso se reflete na qualidade das uvas, especialmente na Mencía, principal cepa local. Há um outro aspecto interessante, a grande concentração de vinhas velhas — são mais de 3 500 hectares de vinhedos para lá de centenários. Tradicionalmente, videiras de mais idade produzem menos, mas as uvas são de qualidade excepcional, refletem de forma clara o chamado terroir, a combinação de fatores que tornam cada pequeno naco de terra um canto cobiçado pelos produtores.

    arte vinhos

    Some-se à evidente qualidade do que a natureza entrega uma mudança de hábito dos consumidores. Durante décadas, sob influência do crítico americano Robert Parker, o mercado preferia vinhos mais potentes e estruturados, com longas passagens por barricas de madeira. Nos últimos anos, porém, o paladar se voltou para outro lado do espectro: vinhos mais frescos e leves. Os rótulos produzidos em Bierzo ostentam esse perfil rejuvenescido (e mais em conta). Hoje, os melhores exemplares são comparados aos grandes vinhos de Pinot Noir da Borgonha e e Nebbiolo, na região de Barolo, na Itália.

    REFERÊNCIA - Raúl Pérez: o rosto mais conhecido das uvas recolhidas no noroeste da Espanha
    REFERÊNCIA - Raúl Pérez: o rosto mais conhecido das uvas recolhidas no noroeste da Espanha (@raulperezbodegasyvinedos/Instagram)
    Continua após a publicidade

    A onda tem um rosto: o veterano enólogo Raúl Pérez, onipresente na celebração da variedade Mencía e um dos líderes do trabalho que fez Bierzo ser reconhecida, a partir de 1989, como região de Denominação de Origem, selo que indica a procedência do vinho. Nascido e criado entre os vinhedos, Pérez cultivou raízes, e de lá não sai, a não ser para viagens de divulgação. Professor cuidadoso, o mentor formou uma novíssima geração de profissionais. É o caso do jovem enólogo Diego Magaña, à frente do Dominio de Anza. Filho de viticultores, ele decidiu se afastar da empresa do pai para desenvolver um projeto próprio. Sua metodologia de trabalho é comprar as melhores uvas dos produtores de Bierzo e preparar o vinho com a menor intervenção possível. Passa a bebida por barricas, mas evita ao máximo que os aromas e sabores da madeira, antes tão buscados, se sobreponham ao perfil fresco da fruta vermelha. É lida delicada. O resultado são garrafas que podem ser consumidas agora mesmo, mas ganham vida com a guarda. “Um grande vinho está sempre pronto para ser bebido”, diz Magaña. Grandes vinhos que, revelam as enciclopédias, já passeavam por aquelas bandas, mas esperavam a oportunidade associada a novos conhecimentos para alcançar o merecido relevo. De Plínio, o Velho, que sabia das coisas, depois de tudo experimentar naquele canto da Espanha rico em vinhos: “é uma substância tão atraente que muitos acreditam não existir outro prazer na vida”.

    Publicado em VEJA de 1º de março de 2024, edição nº 2882

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.