Nos últimos anos, diversos estudos mostraram que a cerveja costuma ser a bebida alcoólica mais apreciada pelos jovens. Associada a baladas — e com preços acessíveis para o bolso dos mais novos —, ela continua a liderar a preferência desse público. Pela primeira vez, porém, um novo gosto começa a despontar entre a juventude: o consumo de vinhos. Diversos indicadores mostram que as pessoas de 20 a 25 anos estão consumindo mais tintos e brancos, aumentando assim o faturamento das empresas do ramo. O fenômeno é recente e pode colocar o Brasil, onde o consumo de vinhos é crescente, no mapa mundial desse mercado.
A geração Z — tecnicamente os nascidos entre 1995 e 2009, hoje boa parte nos seus 20 e poucos anos — passou a chamar a atenção dos enólogos quando a Evino, uma das maiores plataformas de vendas on-line de vinhos do Brasil, apresentou seus resultados de vendas. Entre 2020 e 2021 — durante a pandemia, portanto —, o consumo da bebida entre os jovens cresceu 30%, mais do que em qualquer outra faixa etária, uma surpresa até para os donos do negócio.
De acordo com especialistas como Keli Bergamo, gerente da The Wine School, que oferece cursos de enologia, a entrada de novos apreciadores no mercado é uma tendência definitiva. “A geração Z é curiosa e mente aberta”, afirma. “Enquanto as gerações anteriores encaram o vinho como algo sofisticado e adequado a determinados momentos, os jovens não têm medo de explorá-lo em qualquer ocasião.” Keli diz que a geração Z já representa quase um quarto de seu público nas redes sociais.
Além disso, a compra nessa faixa etária está distribuída igualmente entre homens e mulheres. A paulistana Mariana Gaspar, de 23 anos, tornou-se apreciadora assim que experimentou a bebida pela primeira vez. “Gostei bastante do sabor e comecei a procurar outros rótulos”, ela conta. Hoje, Mariana trabalha no setor como sócia de sua mãe e de sua irmã em uma loja especializada. “Temos muitos consumidores da minha idade, e acredito ser reflexo de curiosidade e da vontade de criar hábitos novos.”
Existe, porém, um fator que deve ser considerado: a menor disposição da geração Z para encarar qualquer tipo de bebida alcoólica. De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria Berenberg Research, jovens de até 26 anos têm consumido cerca de 20% menos álcool per capita do que a geração anterior, os chamados millennials, nascidos entre 1981 e 1994, e, segundo a Evino, correspondem a 30% de seu público. Os muito jovens, ao que parece, buscam bebidas de maior qualidade — e o vinho se encaixa perfeitamente nesse desejo. Assim, se a indústria pretende conquistar mesmo a parcela mais nova da população, será preciso investir em qualidade, mas sem forçar a barra no preço. Se a equação for resolvida, os jovens representarão ótimas oportunidades de negócio.
Estudos recentes realizados pelo Wine Business Institute, da Sonoma State University, nos Estados Unidos, mostraram que, para fazer com que a geração Z ganhe afinidade com a bebida, é preciso apostar em aspectos como propagandas on-line e modernização do design das garrafas. Outra medida importante seria, segundo as pesquisas, oferecer opções mais econômicas para os jovens que querem experimentar suas primeiras taças.
Os especialistas apontam mais um aspecto relevante: o investimento na geração Z parece ser a melhor saída para reverter a retração do mercado de vinhos em países como França e Itália, campeões em consumo per capita, mas que começam a perder adeptos nas gerações de maior idade. O sucesso da empreitada consiste em fazer com que a aderência dos jovens à mais nobre das bebidas não seja apenas passageira. Enquanto isso, um brinde à juventude.
Publicado em VEJA de 18 de agosto de 2021, edição nº 2751