Saiba o que é e onde provar o Iftar, o banquete de desjejum dos muçulmanos
Durante o Ramadã, os praticantes do islamismo jejuam do nascer ao pôr do sol e celebram o fim do jejum diário com uma variedade de pratos
Algumas tradições religiosas são tão interessantes que merecem ser conhecidas mesmo pelos não praticantes. É o caso do Iftar, a quebra do jejum durante o Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos. Por ser medido pelo calendário lunar islâmico, o Ramadã não é celebrado nas mesmas datas todos os anos. Em 2024, ele começou no dia 10 de março e vai até 18 de abril. Nesse período, os muçulmanos passam o dia em jejum, do nascer ao por do sol. Até a ingestão de água é evitada.
Ainda de madrugada, antes no nascer do sol, eles comem uma refeição leve, conhecida como Suhur, para garantir o sustento ao longo do dia. Quando o sol se põe, as famílias se reúnem para o Iftar, um verdadeiro banquete. A reunião da comunidade é parte da tradição, e em cada país praticante o menu é diferente. A principal similaridade é a quebra do jejum primeiro com um copo de água e uma tâmara – os dois elementos advindos da natureza teriam sido feitos por Deus.
Aqui, no Brasil, a prática é menos conhecida, em parte por conta do contingente menor de muçulmanos. Em São Paulo, no entanto, mesmo os não-praticantes do islamismo podem conhecer o menu Iftar no restaurante Make Hommus. Not War, a primeira homuseria do Brasil. O nome faz uma referência ao homus, a pasta de grão-de-bico que serve de base para a maioria dos pratos. Desde o ano passado, o chef Fred Caffarena cria uma série de pratos que são servidos apenas durante o Ramadã. Além da tâmara e do copo de água, ele serve uma salada shirazi (com tomate, pepino, cebola, menta e ervas frescas), homus e o pão ramazan, típico do Ramadã. Todos os dias há uma sopa diferente, como a harira, com base de tomate, que leva especiarias e grão-de-bico. Há ainda um arroz acompanhado de proteína, o Maqluba, que pode ter, por exemplo, kafta de pato.
Pelo segundo ano, a procura pelo menu Iftar tem aumentado no restaurante, segundo Talita Silveira, que também comanda a casa ao lado do marido, Fred. “Mesmo quem não é muçulmano quer participar da tradição. Alguns disseram que vieram em jejum”, conta ela. O menu Iftar será servido exclusivamente até esta sexta-feira, 5, das 18h às 19h (com reserva), e custa R$ 79 por pessoa. Mas não é a única novidade do Make Hommus. Na próxima semana, no dia 8, o chef vai retomar um projeto criado em 2018 ao lado de Carla Saueressig, sommelière de chás, em que cozinha um menu completo com chás diversos. “Como o menu do Make Hommus está muito ajustado e as pessoas voltam para provar um ou outro prato, não dá para tirar nada”, conta Talita. “Esses eventos são uma forma de dar vazão às pesquisas sobre a comida do Magrebe e do Oriente Médio feitas pelo chef.
É uma maneira saborosa e respeitosa de conhecer um dos cinco pilares do islamismo. O jejum é parte fundamental da prática religiosa, junto com a fé, a oração cinco vezes ao dia, a caridade e a peregrinação à Meca, feita ao menos uma vez na vida.
O Islã é a religião que mais cresce no mundo, e tem mais de 1,8 bilhão de praticantes, quase um quarto da população global. Eles são maioria em 49 países, que falam idiomas distintos e têm formações étnicas diferentes. No Brasil, no entanto, a religião ainda é pouco praticada. Dados da Federação das Associações Muçulmanas no Brasil (Fambras) de 2022 apontam que o país têm hoje entre 800 mil e 1,5 milhão de praticantes. Parece pouco, mas em 2010 o número não passava de 40 mil. Naquele ano, toda a América Latina tinha cerca de 840 mil fiéis.