Vinhos: as vantagens do modelo bag-in-box, que ganha espaço no Brasil
Popular na Europa e nos Estados Unidos, ele preserva a qualidade da bebida até um mês depois de aberta
As garrafas de vidro oferecem notórios benefícios para o armazenamento de vinhos. A depender da cor, elas protegem o líquido da indesejável radiação ultravioleta. Também são aliadas do processo de envelhecimento, especialmente se estiverem associadas a rolhas de boa qualidade. O formato costuma ser um indicativo do tipo, das castas de uva e da região em que o rótulo foi produzido. Não à toa, o engarrafamento em peças de vidro é o método preferido dos vinicultores e até hoje consagrado no consumo cotidiano. Mas persiste um fator que incomoda especialistas: sabe-se que, depois de abertas, as garrafas não mantêm as propriedades originais da bebida — isso explica a perda de sabor no dia seguinte e dá certa razão a quem argumenta que é preciso tomar tudo de uma só vez. Para driblar a dificuldade, outra configuração vem ganhando espaço na mesa e na adega de enólogos e consumidores em geral — o vinho em caixa.
Conhecida como bag-in-box, consiste em uma embalagem de plástico com várias camadas metalizadas, acomodada dentro de uma caixa de papelão que comporta, em geral, 3 litros. Uma pequena torneira é usada para servir o vinho, e o processo de acionamento faz com que o saco plástico continue selado a vácuo. Segundo produtores, a técnica proporciona maior durabilidade ao conteúdo. Eles asseguram que a bebida mantém a qualidade da primeira à última taça por pelo menos trinta dias. E há ainda uma vantagem ambiental, o que agrada a gregos e troianos nestes tempos de debate climático a toda. De acordo com levantamento da California Sustainable Winegrowing Alliance (CSWA), entidade americana de viticultores, a pegada de carbono de uma dessas caixas de 3 litros é 85% menor do que em uma única garrafa de 750 mililitros.
Embora tais caixas não sejam propriamente uma novidade — sua primeira versão nasceu no longínquo 1965 —, só agora elas caíram nas graças dos fãs de tintos e afins, antes mais céticos em relação à inovação. O formato bag-in-box vem ingressando na cultura etílica de diversos países. Um estudo da consultoria Market Research constatou que quase metade (44%) dos vinhos vendidos em supermercados franceses já está alojada nessas embalagens. De acordo com outra pesquisa, conduzida pela agência Wine Intelligence entre 2020 e 2021, 3,7 milhões de pessoas no Reino Unido e na França passaram a comprar as caixas. Chile, Argentina e sobretudo Estados Unidos também indicam um crescimento expressivo delas. No Brasil, embora faltem dados confiáveis, analistas estimam que esse tipo de invólucro responda por 3% das vendas totais — há poucos anos, não chegava a 0,5%.
O consumo é impulsionado pelo leque de opções que chegam às lojas ou estão disponíveis pela internet. Em 2022, vinícolas como a Miolo passaram a oferecer uma gama de versões no sistema bag-in-box. Recentemente, o e-commerce Evino estreou sua marca própria Conchego com três variedades — um tempranillo tinto, um branco feito com a casta airén e um terceiro, rosé —, todas produzidas na Espanha e vendidas pelo aplicativo.
Uma boa medida do aumento da popularidade das caixas é a entrada de startups no negócio. A paulista Fabenne criou um portfólio com quatro tintos, dois brancos e um rosé no modelo bag-in-box. “É o que chamamos de vinho de geladeira, para ter à mão quando se quiser uma tacinha”, diz Arthur Garutti, fundador da empresa. “Não brigamos com o modelo tradicional, somos complementares.” Em geral, o vinho armazenado nesse formato é mais simples, e os produtores oferecem seus rótulos de entrada — como o português Alandra, do Grupo Esporão — a preços na maioria das vezes mais baixos. Para um número cada vez maior de consumidores, isso já é suficiente.
Publicado em VEJA de 30 de novembro de 2022, edição nº 2817