O Homo sapiens tem uma característica peculiar entre tantas outras que já se conhecem: ele tende a vaticinar o que deseja que aconteça, não o que de fato acontecerá. É por isso que governos, empresas, institutos, países e, claro, os indivíduos que compõem a sociedade costumam errar mais do que acertar as previsões para o futuro, seja ele próximo ou distante. A melhor forma de não cair nessa ardilosa armadilha é tomar decisões, tanto de negócios quanto de vida, baseadas em fatos e circunstâncias. Ter humildade de encurtar o horizonte para cinco ou dez anos também é salutar, pois, como diria o sábio, tão tolo quanto aquele que nada planeja é o que planeja demais. O futuro permanece incerto, mas os sinais do presente ajudam a entendê-lo melhor.
Partindo dessas premissas, VEJA, em sua primeira edição do ano, propõe 21 ideias para 2021 e para a nova década inaugurada agora. Não é um trabalho de adivinhação ou achismo, mas uma análise consistente amparada no comportamento das pessoas e na tecnologia que está surgindo ao redor delas, às vezes não tão evidentes quanto se pode pensar. Organizamos as principais tendências para 21 segmentos relevantes da atividade humana, da ciência à religião, do consumo ao meio ambiente, da educação ao entretenimento, da economia à política, dos negócios ao turismo.
Nas matérias a seguir, o leitor não encontrará histórias sobre carros voadores nem milagrosas descobertas de cura para todos os tipos de câncer, mas sim o resultado de pesquisas apuradas, realizadas a partir de entrevistas e horas de consultas com especialistas e autores das mais diversas áreas do conhecimento. Abordamos a participação dos novos empreendedores e de agentes independentes na economia, a expansão do compartilhamento de bens, a consolidação das videoconferências, da telemedicina e do estudo a distância, o equilíbrio tênue para o cinema e o streaming conviverem em harmonia, a presença cada vez maior da inteligência artificial no dia a dia — e muito mais.
O mundo, asseguram os especialistas de variados ramos de atividade, será diferente na década que se inicia. Não necessariamente melhor, mas diverso do que se conhece agora. Entender o que está por vir é indispensável para o próprio crescimento pessoal, para o avanço das empresas e o desenvolvimento dos países. Projetar o futuro é uma tarefa vital, mas isso deve ser feito, como foi dito antes, a partir de análises ancoradas em pesquisa, na ciência e no conhecimento.
VEJA não se propõe a trazer respostas a todas as perguntas, nem a fazer um mero exercício de imaginação. O que se apresenta é um panorama para o ano que se inicia, com um olhar para o horizonte até 2030 e eventualmente um pouco mais além. É verdade que o isolamento social restringiu deslocamentos e contatos, mas o bom jornalismo está fundamentado em um conceito que supera até mesmo as mais terríveis crises: não se pode estudar o planeta Terra e seus habitantes isolado no alto de uma torre de marfim.
Portanto, a maior questão que se coloca em 2021 é de que forma a mesma pandemia que amarrou o mundo, ou pelo menos boa parte dele, ainda interferirá no avanço da humanidade, seja no campo científico e médico, seja no espectro financeiro e de desenvolvimento das nações. Novamente, qualquer especulação sobre isso ficaria mais na esfera da quiromancia do que no terreno das aplicações práticas. Assumindo, porém, que a Covid-19 e seus efeitos deletérios comecem a desaparecer aos poucos, podemos afirmar com segurança que 2021 não será apenas um ano de transição.
Indicadores consistentes apontam para a recuperação da atividade econômica, para o ingresso de mais investidores na bolsa de valores, para a maior participação do e-commerce no varejo, para decisões de compras mais sábias e para um modo de vida minimalista, no qual o menos será mais. Tudo isso está contemplado neste especial. O mundo será desafiador e é hora de desvendá-lo.
21 TENDÊNCIAS PARA 2021
Os erros no combate à Covid-19 ameaçam a onda de líderes de direita
Mais trabalhadores optam por ser os próprios chefes
O jovem abraça a ideia de que desfrutar pode ser melhor do que possuir
O aumento do déficit obriga o retorno à trajetória de queda da dívida
O mercado de ações ganha impulso para manter a performance de 2020
O comércio eletrônico se consolida, mudando o capitalismo para sempre
Impulsionado pela pandemia, consumo consciente ganha espaço
Ensino on-line traz avanço significativo à educação desta geração
Expansão da telemedicina será inevitável com novas tecnologias para exames
A efervescente mistura entre Estado e religião no Brasil de Bolsonaro
Viagens domésticas, mais baratas e longe das aglomerações atraem turistas
Aquecimento global eleva número de desastres climáticos e mobiliza países
A presença constante na internet faz surgir nova neurose comportamental
O futuro da inteligência artificial
A era espacial S.A.: o capital privado entra com força no setor
O mundo se acostumou sem beijos e abraços – e será assim por um bom tempo
Jovens fazem e farão menos sexo, o que não tem a ver com conservadorismo
Pratos veganos conquistam até a alta culinária
A mobilidade nas metrópoles passa pelas bicicletas
Jogos Olímpicos deverão abrir espaço para as competições de videogames
A pandemia tornou o streaming rei e o cinema, seu súdito
Publicado em VEJA de 13 de janeiro de 2021, edição nº 2720