Dada: conheça a feira em Porto Alegre que conecta público e arte
Público tem oportunidade de se aproximar de artistas plásticos em feira de arte “acessível”
Em setembro de 2017, Porto Alegre apareceu nos noticiários graças a uma polêmica envolvendo uma exposição artística. Dentro das muitas discussões possíveis, uma delas foi recorrente: afinal, o que é arte?
O distanciamento entre as pessoas e os locais tradicionais de consumo cultural, além da ideia de que é preciso fazer parte de uma elite intelectual e financeira para entender do assunto, parece estar ainda muito presente no imaginário popular. O projeto #hellocidades, de Motorola, foi às ruas para mostrar uma iniciativa que deixa a arte mais próxima e mais barata. E, de quebra, convida o público a se abrir para novas experiências pela cidade.
Fábio Vieira de Oliveira é um planejador. Seu dia a dia como consultor de inovação, profissão em que usa ferramentas de design estratégico para oferecer soluções, fez com que ele desenvolvesse um olhar aguçado em relação aos outros. Esse mesmo olhar foi lançado sobre si próprio quando Fábio se dedicou a repensar sua trajetória profissional, que até então se limitava ao ritmo frenético de agências de publicidade.
Naquele momento, ele se inscreveu em um curso chamado “Desenho tosco, olhar afiado”, onde aprendeu a usar o desenho como forma de expressão, independente de técnicas. “A partir daí, a arte foi entrando gradativamente na minha vida. Passei a trabalhar com colagens, as coisas foram acontecendo. Mas percebi que faltava um espaço para aqueles que, como eu, não vinham de uma formação clássica em artes e nem se encaixavam no mercado tradicional”, conta. Além de desenvolver seu lado artista, ele também descobriu uma aptidão como gestor cultural.
Foi quando surgiu a ideia da Feira Dada – Affordable Art Fair, cuja primeira edição aconteceu em maio de 2017, em Porto Alegre. “Ela surge de uma dupla percepção: enquanto artista, que acredita que é preciso expandir esse círculo na cidade — de algo que se retroalimenta, para uma experiência mais democrática; e enquanto consumidor, que quer que a arte saia de um pedestal inalcançável para algo de qualidade que seja possível consumir”, explica o promotor.
O conceito é simples: artistas se reúnem para vender suas obras com o valor máximo de R$ 500. “Grande parte das peças está lá por um preço inferior, mas tem grande valor artístico”, diz Fábio. Além da clara diferença no preço — galerias tradicionais podem ter obras com preços na casa das dezenas de milhares —, a Feira Dada também cobra menos dos expositores. “A nossa porcentagem é suficiente para manter a feira funcionando e não para dar lucro, o que é bom para os artistas, para o público e para a Dada”, diz.
O nome do evento é uma homenagem ao Dadaísmo, movimento artístico de vanguarda dos anos 1910, representado por nomes como Marcel Duchamp. De acordo com o manifesto que norteia a feira, trata-se da “arte sem a necessidade de academicismos, formalidades e blá-blá-blá”. O texto continua, dizendo que o objetivo é “reafirmar a liberdade da arte: democratizando o acesso; valorizando a produção local; estimulando novos colecionadores”. Para a organização do evento, a possibilidade de desenvolver nos frequentadores o impulso de ter mais de uma obra é crucial.
A tentativa é transformar a feira numa experiência despretensiosa em que as pessoas possam conviver com artistas e se interessarem também por seus processos de criação — não apenas pelo produto final.
A artista visual Heloísa Medeiros, premiada no Brasil e no exterior, concorda com essa visão. A gaúcha, que teve seu portfólio publicado no site da Vogue Itália, foi a campeã de vendas na última edição da Dada. Para ela, falar do trabalho pelo qual é apaixonada causa no possível comprador uma emoção parecida, de curiosidade e desejo.
Com uma obra que se dedica ao registro de ensaios sobre o feminino, Heloísa vê, no espaço da Dada, uma possibilidade de empoderamento. “Costumo dizer que o corpo é uma festa, a hipocrisia é que é imoral. Por isso, é muito importante que a gente tenha essas iniciativas que geram conversa, para naturalizar mais as coisas”, diz.
A artista enxerga ainda outra vantagem na feira. Como não tem lugar fixo, como as galerias, abrem-se as possibilidades para visitantes diferentes e surgem novas oportunidades para os artistas. “Em uma galeria, as pessoas entram, passam 20 minutos observando as obras, cumprimentam o artista e o curador e vão embora. Criamos uma feira que traz outras experiências, aproxima a família inteira e coloca a todos em uma mesma posição”, conta Fábio.
E quando fala da família, o artista se refere a toda ela, incluindo os pequenos. Nas edições anteriores, uma atividade mediada por uma psicóloga estimulava a curiosidade e criatividade das crianças. A primeira edição contou com mais de 300 visitantes, oito artistas e cerca de R$ 5 mil em obras vendidas. A segunda, em setembro de 2017, contou com 11 artistas, mais de 400 visitantes e R$ 9,5 mil em obras comercializadas.
Gosta de arte? Se você participar de outras iniciativas que valorizam a arte e os artistas locais, partilhe conosco com a hashtag #hellocidades. Redescubra Porto Alegre em hellomoto.com.br.