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Uma proposta inovadora para o transporte público

No município de Caucaia, perto de Fortaleza, o benefício do passe livre nos ônibus pode vir junto com a entrega de cestas básicas. Saiba como.

Por Da Redação Atualizado em 27 nov 2023, 22h37 - Publicado em 27 nov 2023, 21h41

O início foi tímido, parecia mais um desses movimentos que faria algum barulho, e então seria engolido pelas dificuldades do cotidiano. Mas não. As demandas do Movimento Passe Livre inauguraram, como rastilho de pólvora, os protestos de junho de 2013. O então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do PT, e o governador do estado, Geraldo Alckmin, naquele tempo nome de destaque do PSDB, foram pegos de surpresa em Paris, em viagem a trabalho. Voltaram às pressas, mas já não havia como apagar o incêndio no país – e o resto é história.

Desde então, e sempre, a questão da gratuidade do transporte público virou tema mercurial no Brasil. Há quem o defenda, e sabe-se lá de onde pretende conseguir dinheiro para bancá-lo. Há quem refute a ideia. “Não se sustenta, não faz sentido, não vamos embarcar”, disse na semana passada o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicamos. O prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes, do MDB, pensa em um meio-termo: oferecer a tarifa zero, que custaria 500 mil reais aos cofres públicos, nos domingos ou durante as madrugadas, a partir de 2024.

Em campo tão minado, de intensos matizes ideológicos, a criatividade pode ser atalho para boas ideias. O município de Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, lançou em 2021, no auge da pandemia, o programa “Bora de Graça”, aplicando a gratuidade aos serviços de ônibus. Hoje, 355 000 cidadãos são beneficiados pela iniciativa. Foi pioneirismo seguido por outras 84 cidades brasileiras, a exemplo de São Caetano do Sul (SP). O pulo do gato inovador, e que ajuda a multiplicar a ideia, é outro, a rigor: por não precisarem fornecer o vale-transporte para seus funcionários, as empresas de Caucaia economizam algo em torno de 2,2 milhões de reais ao ano com o “Bora de Graça”.

O plano é reverter a quantia em forma de cestas básicas mensais. O resumo da ópera: as pessoas não pagam pelo transporte e ainda teriam o que comer. A interessante proposta tem o apoio do prefeito Vitor Valim (PSB), e depois de levada à Câmara Municipal será apresentada na primeira semana de dezembro para as empresas do setor metalúrgico (há 30 000 metalúrgicos na região). Parece haver boa aceitação. “Depois de tantas perdas de direitos, a medida pode ser um grande avanço para a classe trabalhadora”, disse o presidente da CUT no Ceará, Will Pereira. O passe livre ainda provocará muito ruído, sem dúvida, mas a descoberta de novos caminhos pode tornar o ambiente menos envenenado, em que todos os lados possam sair ganhando. Não será fácil, claro – mas há no horizonte um recurso diferente de tudo o que foi pensado, em chão tão minado.

 

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