A dura advertência de Joe Biden à China
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse no Discurso do Estado da União que Pequim sofrerá as consequências se ameaçar soberania nacional americana
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um alerta dramático à China durante o célebre Discurso do Estado da União na terça-feira 7, dizendo que vai proteger seu país contra ameaças de Pequim à soberania nacional. A escalada na retórica do líder americano contra o presidente Xi Jinping ocorre após a detecção de um balão de espionagem chinês no espaço aéreo dos Estados Unidos.
Em seu discurso na Câmara dos Representantes, Biden que disse que Washington busca “competição, não conflito”. Mas ele também disse que os investimentos dos Estados Unidos em suas alianças e tecnologias militares significam que estão mais preparados que nunca para competir com a China e defender seus interesses.
“Não se engane: como deixamos claro na semana passada, se a China ameaçar nossa soberania, agiremos para proteger nosso país. E nós o fizemos”, disse Biden, referindo-se ao jato que disparou um míssil que destruiu o balão chinês na costa leste, depois de passar dias flutuando pelos Estados Unidos e Canadá.
Diante de milhões de espectadores em todo o mundo, já que o pronunciamento é transmitido pela TV, Biden aumentou ainda mais as tensões diplomáticas com a China. E, nesta quarta-feira, 8, a emissora americana CNN relevou detalhes sobre um amplo programa chinês de vigilância por meio de balões – o que levanta questões sobre como cada país vai responder à situação.
No improviso, Biden nomeou especificamente Xi, enquanto criticava regimes autocráticos e defendia a superioridade das democracias.
“Me diga um líder mundial que trocaria de lugar com Xi Jinping. Diga-me um!”, disse o presidente americano, quase gritando, sobre seu homólogo chinês, com quem se encontrou pela última vez na Indonésia no ano passado – e que conhece há anos. A frase pode ser vista como desdenhosa, em um momento em que a figura de Xi foi manchada pela má administração da pandemia de Covid-19.
O conflito com a China abriu a oportunidade para uma rara frente unida entre republicanos e democratas em Washington. Há muito, Pequim monta uma ampla campanha de inteligência contra os Estados Unidos, usando satélites, ciberataques – e balões – para coleta de informações. Os americanos vigiam a China, mas a detecção do balão “espião” na semana passada, flutuando para todo o mundo ver, representa uma nunca antes vista ameaça potencial à soberania do país, em meio a análises de que uma nova Guerra Fria poderia acontecer.
Os comentários francos de Biden também demonstram uma mudança de posicionamento geopolítico. Durante as últimas duas décadas, os Estados Unidos tentaram introduzir a China no sistema global como concorrente, não adversária, inclusive com sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC). O crescimento econômico acelerado de Pequim, no entanto, bem como brigas diplomáticas fazem com que muitos americanos considerem essa abordagem um fracasso.
Falar sobre barreiras para o relacionamento entre as potências e a necessidade de proteger o sistema internacional, baseado em regras lideradas pelo Ocidente, é visto pela China como uma tentativa de impedir seu “destino legítimo” como grande player mundial.
Biden surfou na onda das hostilidades do ex-presidente Donald Trump contra Pequim, turbinada pela pandemia global que se originou na China, e elaborou novas leis e políticas amplas que desafiam a influência do gigante asiático. Em outro sinal de oposição unificada à China, o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, convocou um novo comitê bipartidário da Câmara dedicado a examinar a suposta ameaça do Partido Comunista Chinês.
Logo após o discurso de Biden, inclusive, Trump teceu críticas ainda mais duras à China, sinalizando que este será um dos principais temas na campanha presidencial de 2024 nos Estados Unidos. Isso tem potencial para inflamar ainda mais as tensões diplomáticas entre Pequim e Washington e alimentar a crença de Xi de que os americanos desejam conter sua ascensão.
Agora, uma questão-chave é se a retórica acalorada dos Estados Unidos contra a China pode deteriorar ainda mais o relacionamento já conturbado entre os países. No ano passado, já houve uma ruptura devido à visita da ex-presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, a Taiwan.
Biden não mencionou a ilha democrática no discurso, talvez o gatilho mais provável de um conflito entre as potências, mas, no passado, reiterou que defenderia Taiwan no caso de um ataque chinês.
O momento do discurso do presidente, além do mais, é extremamente tenso. Os Estados Unidos travam confrontos simultâneos com a China e a Rússia – este referente à guerra na Ucrânia –, e essas duas superpotências nucleares estreitaram seu relacionamento desde a invasão russa em fevereiro passado.
Biden enxerga o cenário como uma luta entre democracias e autocracias. Segundo ele, a invasão da Ucrânia é “um teste para as eras, um teste para os Estados Unidos, um teste para o mundo”, bem como um exemplo de como Washington busca por mais “liberdade, mais dignidade e mais paz”.