À espera da posse de Biden, Washington vive tensão máxima
Capital dos EUA aumentou segurança pós invasão do Capitólio por apoiadores de Donald Trump e de avisos do FBI sobre futuros 'protestos armados'
A posse do novo presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, promete ser extremamente singular. Não apenas porque a pandemia de coronavírus substituiu o tradicional – e aglomerado – evento de inauguração por uma apresentação televisionada feita por Tom Hanks, mas porque a capital americana ganhou aparência de zona de guerra.
Depois de um ataque ao Congresso por apoiadores do presidente de saída, o republicano Donald Trump, na quarta-feira passada, o FBI alertou que outros “protestos armados” antes do dia da posse estavam sendo planejados em todas as 50 capitais estaduais. Há ameaças de invasões a capitólios no país todo, inclusive ao de Washington.
Temores de que as ameaças se concretizem fizeram com que lojas trocassem as costumeiras decorações do Dia de Inauguração por tapumes, se preparando para evitar possíveis danos. A prefeita Muriel Bowser já solicitou a disponibilização de fundos do governo federal para prevenção de desastres, declarando “estado de emergência” a partir da segunda-feira 11.
A pedido de autoridades federais e estaduais, o Airbnb anunciou na quarta-feira 13 que cancelou todas as reservas de casas e apartamentos na capital dos Estados Unidos – mais de 5.500 – para evitar a hospedagem de pessoas ligadas a grupos extremistas. Alguns hotéis, como o Eaton DC, seguiram a mesma toada, proibindo reservas da sexta-feira, 15, até a quinta-feira, 21, um dia após a posse.
A companhia aérea American Airlines também anunciou que nos dias que antecedem a cerimônia de posse, a distribuição de bebida alcoólica será cortada em todos os voos que têm como destino a cidade de Washington. Além disso, o National Mall, onde o público costuma se reunir para assistir o discurso presidencial em grandes telas, permanecerá fechado.
Sob condições normais, visitantes de todo o país iriam à capital para atender ao evento. Quando Barack Obama tomou posse como presidente pela primeira vez, em 2009, cerca de 2 milhões de apoiadores se concentraram na metrópole.
Devido à ameaça de violência, o Serviço Secreto assumiu oficialmente a segurança da cerimônia, mobilizando mais de 20.000 soldados da Guarda Nacional, ao invés de apenas 15.000. É comum que posses presidenciais tenham alto grau de segurança, mas na de Trump há quatro anos, por exemplo, apenas 8.000 militares estiveram presentes.
A Guarda Nacional já está patrulhando o Capitólio, cercado por uma barricada de mais de 2 metros de altura, e ocupa os corredores do edifício desde a votação pelo impeachment na Câmara dos Deputados na quarta-feira, que acusou Trump de “incitar uma insurreição” pelo seu papel no encorajamento da invasão ao edifício. Ruas da zona do centro estão sendo totalmente fechadas, com grandes caminhões bloqueando o acesso.
Até mesmo Biden, que inicialmente minimizou preocupações com sua segurança durante o evento, desistiu de usar o trem para viajar de sua cidade natal, Wilmington, em Delaware, até a capital americana. A viagem de 90 minutos faz parte da persona do presidente eleito – que tomou o trem durante a carreira de 36 anos como senador –, mas foi considerada um risco muito grande.
Segundo um consórcio de agências federais de inteligência, a invasão ao Capitólio, que encurralou congressistas por mais de uma hora e causou cinco mortes, será um “motor significativo de violência” para grupos de milícias armadas e extremistas que têm como alvo a posse presidencial.
O FBI encontrou mensagens na internet com ameaças à vida da líder da Câmara, a democrata Nancy Pelosi. Força motora por trás do segundo pedido de impeachment contra Trump, ela afirmou que o presidente está “descontrolado” e apresenta “um perigo para a nação”, enraivecendo os mais leais seguidores do republicano.
Na semana passada, já foi preso um homem que pretendia matá-la e à prefeita de Washington. Mais de 2.500 balas foram apreendidas no momento da detenção. Mais tarde, a polícia de Washington confirmou que ele possuía um arsenal robusto de armas de fogo.
Talvez mais assustador seja o medo de que até policiais envolvidos na segurança da posse possam ter relações com milícias e contribuam para a violência. Mais de 12 policiais e militares participaram da insurreição de 6 de janeiro e o FBI está tentando rastrear sua rede mais ampla de associados, potencialmente envolvidos em possíveis ataques antes e durante o evento da quarta-feira, 20.
Contudo, são muitos policiais e muitos membros da Guarda Nacional para pouco tempo de rastreamento. A tarefa também tornou-se mais difícil desde que Trump e muitos de seus seguidores foram banidos de redes sociais mainstream, como Twitter e Facebook, migrando para aplicativos criptografados, como Telegram e Signal. Mas uma coisa é certa: a invasão ao Capitólio abriu uma porteira de medo e violência cuja tranca será difícil de reencontrar. Os próximos seis dias – e possivelmente muitos dos que seguirão – serão de alta tensão.