A plateia quase vazia em um dos principais palcos de ópera do mundo, o Teatro do Estado de Hesse, na capital estadual Wiesbaden, na Alemanha, pode passar a impressão de desinteresse pelo canto lírico. Mas é o contrário. A casa foi a primeira a subir as cortinas na segunda-feira 18, com um recital do barítono Günther Groissböck, tão logo o governo autorizou a reabertura de salas de concerto e teatros, depois de superada a fase mais crítica da pandemia no país. Responsável pelo imponente espaço, o diretor Uwe Eric Laufenberg cuida agora para que as performances sejam “à prova de Covid-19”. A primeira providência foi conter as aglomerações: os espectadores devem manter distância de 1,8 metro — daí apenas 150 das 1 000 poltronas estarem ocupadas. Músicos e cantores ficam mais separados ainda, a 3 metros uns dos outros. Corais estão suspensos até segunda ordem. Na estreia da série diária de apresentações intitulada “Meu espírito tem sede de ação, meus pulmões, de liberdade” (uma citação de Schiller), Groissböck brindou o público com composições de Schubert e Mahler. Também promete um recital com trechos da ópera Tristão e Isolda e uma experiência sonora especial: antes de ouvi-lo, o público poderá apreciar uma gravação do prelúdio com a sala lotada e comparar o resultado. O diretor Laufenberg avisa que o esquema da reabertura é temporário. “Não dá para contar a história de Romeu e Julieta mantendo distanciamento social”, pondera. Que não demore muito então para o palco poder ser de Shakespeare de novo. E que a plateia possa ocupar também as cadeiras vazias desta foto.
Publicado em VEJA de 27 de maio de 2020, edição nº 2688