O iraquiano Abu Bakr al-Bagdadi, cuja morte foi anunciada neste domingo, 27, pelo presidente americano Donald Trump, sempre viveu nas sombras, mesmo quando se autoproclamou chefe do Estado Islâmico (EI) e passou a controlar as vidas de 7 milhões de pessoas no Iraque e na Síria.
Apelidado de “fantasma”, foi um estudante de religião tímido que se tornou um combatente jihadista do segundo escalão. Subiu progressivamente os degraus até se tornar o incontestável líder do grupo extremista.
O EI perdeu força nos últimos anos. Seu último reduto caiu em março, em Baguz, na Síria, e milhares de seus combatentes estão atualmente presos pelos curdos sírios ou pelo Iraque.
A morte do líder extremista de 48 anos foi confirmada por Trump em um pronunciamento televisionado ao país, no qual explicou que o jihadista morreu “como um cachorro” em uma operação de agentes especiais americanos durante a noite no noroeste da Síria.
“Ele acionou seu colete, se matando”, disse Trump. “Ele morreu após correr para um túnel sem saída, soluçando, chorando e gritando por todo o caminho”, declarou, acrescentando que três de seus filhos também morreram com a explosão.
Boatos e informações sobre a morte do chefe da organização terrorista circularam nos últimos anos, mas sem nunca terem sido confirmados.
Diabético e ferido ao menos uma vez, Ibrahim Awad al-Badri, seu verdadeiro nome, mostrava seu rosto muito pouco.
Nascido em 1971, em Samarra, ao norte de Bagdá, Al-Bagdadi era chamado de “fantasma” por seus partidários. O governo dos Estados Unidos oferecia 25 milhões de dólares em recompensa por sua captura.
Apesar do amplo aparato de propaganda do EI, que divulga uma grande quantidade de fotos e vídeos de suas ofensivas e atrocidades, Bagdadi pouco apareceu nos últimos anos.
Nos tempos de califado, o “califa Ibrahim” apareceu em público apenas uma vez, durante um discurso que foi gravado em uma mesquita de Mossul e divulgado em julho de 2014. Ele estava com barba grisalha, turbante e roupas escuras.
Depois apareceu em um outro vídeo divulgado em abril passado. Al-Bagdadi teria abandonado Mossul no início de 2017 e teria sido visto em vários lugares próximos da fronteira entre Síria e Iraque.
Segundo um documento do serviço secreto iraquiano, Al-Bagdadi tem doutorado em Estudos Islâmicos e foi professor na Universidade de Tikrit (norte).
Teve quatro filhos com a primeira esposa, entre 2000 e 2008, e mais quatro com a segunda.
Em uma entrevista ao jornal sueco Expressen em 2017, Saja Al-Dulaimi, que foi sua mulher por três meses, descreveu-o como “um pai de família normal”, professor universitário, admirado pelas crianças.
Apaixonado por futebol, sonhava ser advogado, mas seu desempenho escolar abaixo do nível necessário não permitiu que cursasse Direito. Também teria tentado entrar para o Exército, mas seus problemas de visão o impediram. Por fim, estudou Teologia em Bagdá.
Al-Bagdadi se uniu à insurreição no Iraque pouco depois da invasão das tropas dos Estados Unidos em 2003 e teria sido levado para um campo de detenção americano.
Apesar de as forças americanas terem anunciado em 2005 a morte de Abu Dua – um de seus codinomes -, ele reapareceu em 2010 à frente do Estado Islâmico no Iraque (ISI), braço iraquiano da Al Qaeda.
Alguns anos depois, conseguiu transformar este grupo na mais potente, rica e brutal organização extremista do mundo, com presença na Síria em 2013 e no Iraque em 2014.
Na época, Al-Bagdadi já havia se desvinculado da Al Qaeda ao rejeitar as ordens do líder desse grupo, Ayman al-Zawahiri, de se concentrar no Iraque e deixar a Síria para a Frente Al-Nosra.
Sua trajetória é diferente do caminho traçado por Osama bin Laden, que desenvolveu a Al Qaeda graças a sua fortuna e já era internacionalmente conhecido muito antes dos ataques de 11 de setembro de 2001, sobretudo, pelos muitos vídeos em que aparecia.
(Com AFP)