Advogado diz que Trump o orientou a mentir sobre projeto com a Rússia
Michael Cohen teria feito declarações falsas ao Congresso a respeito do plano de construção de uma Trump Tower em Moscou
Michael Cohen, ex-advogado pessoal de Donald Trump, afirmou que o presidente americano deu orientações para que ele mentisse para o Congresso sobre o projeto de construção de uma Trump Tower em Moscou, em parceria com o governo russo. A revelação foi feita por dois agentes federais envolvidos na investigação sobre o assunto.
Segundo uma entrevista exclusiva dos agentes ao site BuzzFeed, Trump instruiu que Cohen informasse uma data falsa de fim das negociações sobre o novo prédio, que teriam terminado meses depois do que foi relatado. Eles ainda confirmaram que foi o advogado que fez a delação à equipe do procurador especial do Departamento de Justiça, Robert Mueller.
Mueller lidera a investigação sobre a suposta interferência da Rússia na campanha presidencial americana e a possível complacência da equipe de campanha de Trump. Mesmo antes do depoimento do advogado, o procurador já havia descoberto a farsa na data das negociações. Em depoimento ao Congresso, Cohen relatou que as conversas sobre o plano foram feitas entre setembro de 2015 e janeiro de 2016, mas documentos mostraram que elas se estenderam até pelo menos junho.
À época, Cohen alegou que o projeto foi interrompido mais cedo com a intenção de “minimizar conexões entre o Projeto de Moscou e o Indivíduo 1” durante a campanha. Em outra ocasião, Indivíduo 1 já havia sido identificado por ele como sendo Trump.
O gabinete concluiu que o advogado recebia orientações de superiores investigando entrevistas com diversas testemunhas da Trump Organization, e-mails internos da empresa, mensagens de texto e outros documentos, detalha a reportagem.
Procurado pela CNN, o atual advogado de Trump, Rudy Giuliani, ironizou as denúncias: “se você acredita em Cohen, posso te arranjar um ótimo negócio pela Ponte do Brooklyn.”
Visita a Rússia
Donald Trump ainda teria incentivado o planejamento de uma visita a Rússia durante sua campanha presidencial em 2016, em que se encontraria com o presidente Vladimir Putin para negociar o projeto de construção da torre. De acordo com o BuzzFeed, o líder americano disse a seu advogado para “fazer isso acontecer”. Os agentes contam que o presidente e seus filhos Ivanka Trump e Donald Trump Jr. recebiam atualizações detalhadas dos avanços de Cohen sobre o projeto com Moscou.
Um porta-voz dos advogados de Ivanka disse que ela estava “minimamente envolvida” no plano: “Ela não sabia sobre essa proposta até que uma carta de intenção não obrigatória já estava assinada. Ivanka nunca conversou com alguém de fora da Organização sobre a proposta, nunca visitou a possível área para o projeto e, mesmo internamente, estava apenas minimamente envolvida”, disse Peter Mirijanian ao Buzzfeed.
Em setembro de 2017, Trump Jr. testemunhou para o Comitê Judiciário da Câmara e foi questionado sobre seu envolvimento com o potencial projeto: “Eu estava perifericamente ciente disso, mas a maior parte do meu conhecimento foi adquirido depois, ouvindo sobre o assunto nas últimas semanas.”
Revolta democrata
Líderes democratas reagiram às acusações. Em seu Twitter, Adam Schiff, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, disse que “a alegação de que o presidente dos Estados Unidos possa ter induzido perjúrio ao nosso comitê, em um esforço para limitar a investigação e encobrir seus negócios com a Rússia, está entre as mais sérias até hoje.”
Outro membro do comitê, o representante do Texas Joaquin Castro, sugeriu que o presidente Trump deveria deixar o cargo se as alegações forem verdadeiras.
Em dezembro, Cohen foi sentenciado a 36 meses de prisão depois de se declarar culpado por mentir ao Congresso sobre o plano. Ele também admitiu violar leis de financiamento de campanha e cometer evasão fiscal. Entre os crimes está o pagamento de suborno a duas mulheres que disseram ter sido amantes do presidente.