O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, anunciou nesta terça-feira, 22, que irá tomar medidas para impedir o processo de autorização para o funcionamento do gasoduto Nord Stream 2, projetado para dobrar o fluxo de gás russo que vai até a Europa, em resposta à decisão da Rússia em reconhecer a independência das regiões separatistas no leste da Ucrânia.
O projeto de energia, avaliado em cerca de 11 bilhões de dólares, foi concluído em setembro e esperava certificação da União Europeia e da Alemanha para entrar em funcionamento. A obra causou polêmica em todo o continente pelo fato de que aumentaria a dependência da Europa do gás russo, já responsável por cerca de um terço do fornecimento ao continente.
O governo alemão sempre defendeu o gasoduto como uma obra comercial que deveria estar além da política. Além disso, o país é o maior parceiro econômico da Rússia depois da China, com cerca de três bilhões de euros anuais em investimento direto. Por causa disso, Scholz foi criticado por não ser veemente o suficiente em suas advertências ao presidente russo, Vladimir Putin.
A construção do Nord Stream 2 tinha como objetivo aliviar o preço do gás em meio à crise de abastecimento no continente e diversificar a distribuição do produto no continente. Atualmente, metade da energia obtida na Alemanha é fornecida pela Rússia. Em resposta à medida, o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, ironizou a situação.
“Bem-vindo ao novo mundo em que os europeus vão pagar dois mil euros pelo gás”, disse ele, de acordo com a agência de notícias RIA.
As consequências da medida já começaram a ser sentidas nos países europeus. Nesta terça, o preço referência do gás europeu subiu 9,2% e chegou a 78 euros por megawatt/hora. No entanto, a Rússia também deve sentir a decisão, uma vez que a redução da demanda deverá diminuir sua arrecadação.
Além da Alemanha, os Estados Unidos anunciaram que estão planejando um conjunto de sanções contra a Rússia para os próximos dias, ao mesmo tempo que o Japão também se disse pronto para se reunir com as nações do G7 para aplicações de mais medidas. O Reino Unido, por sua vez, anunciou nesta terça sanções contra cinco bancos e três bilionários russos.
Tensão
Na última segunda, o Kremlin publicou um decreto ordenando que o Ministério da Defesa envie tropas para “funções de manutenção da paz” nos territórios separatistas do leste da Ucrânia, pouco após reconhecer a independência das duas regiões.
De acordo com a agência de notícias RIA, o presidente instruiu as Forças Armadas a “garantirem a paz” nas regiões, sem dar mais detalhes. As autoproclamadas República Popular de Donetsk e República Popular de Lugansk são em boa parte controladas por separatistas pró-Moscou desde 2014 e palco de uma guerra que já deixou cerca de 15.000 mortos.
Na semana passada, em meio à tensão política, diplomática e militar, o governo ucraniano e grupos separatistas apoiados por Moscou já haviam se acusado mutualmente de violações ao regime de cessar-fogo em Donbas, onde ficam as duas províncias separatistas.
A decisão do reconhecimento sepulta os Acordos de Minsk, negociados em 2015, sob mediação da Alemanha e França, para um cessar-fogo nas duas regiões, que teriam em troca autonomia administrativa. Enquanto o governo ucraniano afirma que forças separatistas são “invasoras” e “ocupantes”, a Rússia sustenta que as forças são formas de defesa às agressões do governo ucraniano.
Para a União Europeia, “o reconhecimento dos dois territórios separatistas na Ucrânia é uma violação flagrante do direito internacional, da integridade territorial da Ucrânia e dos acordos de Minsk”. O chefe de política externa do bloco prometeu sanções econômicas contra Moscou, assim como os Estados Unidos.