Alexei Navalny: um problemão para o czar
O russo virou uma pedra especialmente incômoda no sapato de Putin
Poucas vezes se viu caso tão evidente de prisão anunciada: ao pisar no setor de passaportes do aeroporto de Moscou, vindo da Alemanha, o russo Alexei Navalny, mais estridente megafone de oposição ao presidente Vladimir Putin, foi separado da mulher e conduzido, algemado, para a cadeia. Motivo: quando viajou para fora do país, violou os termos de sua liberdade condicional. “Não tenho medo. Todos os casos criminais contra mim são fabricados”, declarou Navalny antes de ser levado pela polícia. Na voz de prisão, nenhuma menção ao fato de que ele voou para Berlim em estado de coma, e lá passou cinco meses se recuperando, depois de ter sido envenenado por um agente nervoso de fabricação exclusiva dos serviços de inteligência da Rússia. Putin fez ironia — disse que, se alguém do governo quisesse matá-lo, ele não estaria vivo para contar a história. Mas o fato é que, ao sobreviver, ainda por cima com exames conduzidos em laboratórios de vários países da Europa comprovando a presença do veneno em seu organismo, Navalny virou uma pedra especialmente incômoda no sapato presidencial. Putin não pode deixá-lo agir à vontade, por motivos óbvios, nem reprimi-lo como desejaria, pelo impacto que isso teria no exterior. Detido sozinho em uma cela por catorze dias, enquanto a Justiça analisa seu caso, Navalny já convocou marchas contra o governo e divulgou um vídeo sobre uma mansão de luxo que o presidente teria construído em segredo para seu lazer. O czar que se prepare: ele vai dar trabalho.
Publicado em VEJA de 27 de janeiro de 2021, edição nº 2722