Após três dias de impasse, Ursula von der Leyen, ministra da Defesa da Alemanha, foi eleita presidente da Comissão Europeia pelos líderes dos 28 países da União Europeia, substituindo o luxemburguês Jean-Claude Juncker. Nesta terça-feira, 2, Donald Tusk, líder do Conselho Europeu, anunciou também Christine Lagarde, atual diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), para o Banco Central Europeu (BCE), instituição responsável pela política monetária da zona do euro.
Na hierarquia das instituições da União Europeia, a Comissão desempenha um papel semelhante ao do Poder Executivo em uma nação. Aliada da chanceler Angela Merkel, a ministra Von der Leyen vai administrar o orçamento do bloco, negociar tratados internacionais e implementar a política acordada entre os países-membros.
A alemã não era a mais cotada para assumir a função. O holandês Frans Timmermans, atual vice-presidente da Comissão Europeia e candidato da bancada social-democrata, uma das majoritárias no Parlamento Europeu, era considerado o favorito na corrida pela presidência desde as eleições dos novos eurodeputados, em maio.
Suas pretensões naufragaram pela falta de aprovação do chamado grupo de Visegrado, formado por Hungria, Polônia, República Checa e Eslováquia. Esses países não o consideravam “um candidato de compromisso”, mas sim uma personalidade que geraria muita discórdia e “que não entende a Europa Central”, afirmou o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki.
Com o apoio dos quatro Estados, Von der Leyen deu o último passo para alcançar as 21 assinaturas necessárias para sua nomeação.
Já Timmermans continuará em sua função atual, dividindo as atribuições com a dinamarquesa Margrethe Vestager, conhecida por suas decisões polêmicas, como a adoção de uma multa de 13 bilhões de euros contra a Apple por sonegação de impostos.
Entre as mudanças anunciadas, o primeiro-ministro da Bélgica, Charles Michel, substituirá Donald Tusk como novo líder do Conselho Europeu, definindo os futuros objetivos e prioridades do bloco junto aos presidentes dos países-membros.
Lagarde
A francesa Christine Lagarde, de 63 anos, atual diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), foi escolhida para substituir o economista italiano Mario Draghi na presidência do BCE a partir de novembro. Lagarde será a primeira mulher a assumir o cargo, assim como ocorreu no FMI, que conduz desde junho de 2011.
Ao responder às notícias de sua indicação, a francesa afirmou estar “muito honrada por ter sido indicada para a presidência” do BCE e confirmou que vai deixar imediatamente o cargo no organismo multilateral.
“Em vista do exposto e em consulta com o Comitê de Ética da Diretoria, decidi deixar temporariamente minhas funções como diretora-gerente do FMI durante o período de nomeação”, disse ela em sua conta no Twitter.
Segundo fontes diplomáticas, assim como von der Leyen, a francesa também foi recomendada pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Antes de assumir o Fundo, a advogada foi Ministra das Finanças, Indústria e Emprego no governo do primeiro-ministro francês François Fillon.
Riscos à indicação
A escolha de Ursula von der Leyen para a liderança do Executivo da União Europeia ainda pode ser freada pelo Parlamento Europeu, que tem que aprovar o novo presidente da Comissão por maioria absoluta (metade dos atuais euro deputados mais um). Se a candidata não obtiver a maioria necessária, o Conselho Europeu terá de propor um novo nome no prazo de um mês.
Segundo o portal Politico, a escolha da ministra alemã pode gerar um mal estar entre os principais órgãos do bloco econômico. “Não consigo imaginar que Von der Leyen será aceita pelo Parlamento”, disse ao site um ministro da União Europeia, em condição de anonimato.
A chanceler Angela Merkel, junto aos outros grandes líderes do bloco, tiveram problemas para encontrar um candidato aceito tanto pelo Parlamento Europeu quanto pelo Conselho, tentando evitar uma crise institucional.
Von der Leyen já declarou publicamente seu sonho de uma União Europeia federalista, se opondo aos ideais da ultradireita nacionalista, um dos principais grupos da nova formação do Parlamento.
“Minha meta é os Estados Unidos da Europa – seguindo o modelo de Estados federais como a Suíça, a Alemanha e os Estados Unidos”, declarou a ministra da Defesa em entrevista ao alemão Der Spiegel, em 2011.
Já em 2015, ela reiterou este posicionamento para o site Die Zeit. “Imagino a Europa dos meus filhos ou netos como algo que não seja uma união frouxa de países presos por interesses nacionais.”
Ainda como ministra, von der Leyen também falou a favor de uma maior cooperação de segurança entre os membros do bloco econômico.