Aliado de Trump volta atrás e admite troca de favor entre EUA e Ucrânia
Embaixador americano na União Europeia, Gordon Sondland, disse que americanos condicionaram ajuda militar a investigação sobre Joe Biden
Em depoimento à Câmara dos Deputados dos Estados Unidos divulgado nesta terça-feira, 5, o embaixador americano na União Europeia, Gordon Sondland, admitiu ter condicionado a concessão de um pacote de ajuda militar à Ucrânia a uma investigação das autoridades locais contra políticos do Partido Democrata, incluindo o ex-vice-presidente Joe Biden.
Sondland afirmou ter dito a um alto conselheiro do presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, que a ajuda militar americana provavelmente não seria enviada até que Kiev deixasse claro que investigaria os laços de Biden e seu filho com a empresa de energia ucraniana Burisma.
Os Estados Unidos haviam prometido liberar em fevereiro o envio de 250 milhões de dólares em ajuda militar à Ucrânia para reforçar a defesa contra a Rússia. A doação ficou parada por vários meses, até que Washington autorizasse o seu envio em setembro.
“Eu disse que a retomada da ajuda dos EUA provavelmente não ocorreria até que a Ucrânia fornecesse a declaração pública contra a corrupção de que estávamos falando há muitas semanas”, escreveu Sondland em um anexo a seu testemunho. Em seu depoimento oficial, em outubro, o diplomata afirmou que não se lembrava da interação com o membro do governo de Zelenski.
Segundo Sondland, ele teria se recordado após ouvir os testemunhos de William Taylor, embaixador interino dos Estados Unidos na Ucrânia, e do diplomata Tim Morrison, ambos no final de outubro. A conversa aconteceu no dia 1º de setembro, durante a visita de Mike Pence a Varsóvia.
O diplomata afirma nunca ter recebido ordens diretas do presidente Donald Trump em relação ao assunto, a não ser “falar com Rudy Giuliani [advogado pessoal de Trump e peça-chave no escândalo]”. Ele já havia declarado em outubro que o presidente não tinha como objetivo uma operação anti-corrupção em termos gerais na Ucrânia.
O embaixador corrobora com a hipótese de que “o interesse [de Trump] fosse [apenas] uma investigação” contra Biden, que hoje concorre à nomeação do Partido Democrata às eleições presidenciais de 2020, e seu filho, Hunter, ex-membro do conselho de diretores da Burisma, empresa ucraniana acusada de corrupção.
Sondland foi proibido pela Casa Branca de depor à Câmara durante o inquérito que prepara o processo de impeachment contra Trump, mas decidiu dar seu testemunho ainda assim.
Ainda nesta terça-feira, 5, a Câmara dos Deputados divulgou a transcrição do depoimento de Kurt Volker, enviado especial à Ucrânia e embaixador americano na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e agendou o testemunho do chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney, para sexta-feira 8.
Mulvaney disse em coletiva de imprensa em outubro que os Estados Unidos haviam pedido “ajuda de alguém [do governo ucraniano] com uma investigação pública em andamento” e que “nós fazemos isso todo o tempo”.
(Com AFP)