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Antissemitismo, o limite que Le Pen não ousa mais ultrapassar

"Entre os dirigentes do partido há uma ideologia muito identitária, nacionalista, de extrema direita", diz especialista

Por Gabriel Brust, de Paris
Atualizado em 3 Maio 2017, 15h25 - Publicado em 25 abr 2017, 17h31

Um meme que circula pela internet francesa desde a eleição, no dia 23 de abril, mostra uma troca de mensagens SMS fictícia entre Marine Le Pen e seu pai, Jean-Marie. “Muito bem, minha garota!”, cumprimenta o veterano direitista, antes de completar: “Será que agora já podemos parar de fingir que estamos brigados?”.

A piada se baseia na crença de muitos franceses de que o rompimento político entre os dois, ocorrido em 2015, não passa de pura fachada ou pelo menos parte de uma estratégia para descolar de Marine a imagem de antissemita da qual Jean-Marie não consegue mais escapar. Para chegar onde chegou, atingindo 21,53% das intenções de voto e repetindo o feito do pai ao se qualificar para o segundo turno, Marine precisou submeter seu discurso a uma forte transformação que incluiu o fim de qualquer referência à questão judaica.

“O antissemitismo é a linha vermelha que Marine Le Pen estabeleceu como limite que não deve ser ultrapassado”, diz a cientista política Nonna Mayer, do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS). Esta linha era frequentemente borrada quando Jean-Marie liderava o partido.

Mas alguns episódios desta campanha despertam a desconfiança do eleitorado sobre o que Marine Le Pen realmente pensa sobre o tema. Em março, ela foi fotografada em um encontro com o deputado russo Vitali Milonov, conhecido por suas posições antissemitas e homofóbicas, sendo autor de uma lei que pune “propagandas homossexuais”.

Florian Philippot, braço-direito de Marine, garante que ela não teria aceitado posar para a foto se soubesse quem era o deputado. Philippot, ele próprio homossexual, é considerado um dos criadores da “nova Marine Le Pen”, de imagem mais palatável ao público.

Nova Le Pen?

Também nesta eleição, Marine cometeu uma gafe sobre o holocausto. No dia 9 de abril, afirmou que o “velódromo não foi culpa da França”. Ela fazia referência aos episódios de 16 e 17 de abril de 1942, quando mais de 13.000 judeus foram aprisionados no Velódromo d’Hiver, em Paris, pelo regime de Vichy, antes de serem enviados para campos de extermínio. O discurso vai na linha seguida por Marine de “não culpabilizar os franceses pelo seu passado”, o que, segundo ela, seria uma obsessão da esquerda ao reler a história.

“Marine muda seu discurso em relação a seu pai em 2002 quando o assunto é antissemitismo. Os judeus não são mais o problema da Frente Nacional”, disse a VEJA  Thierry Vedel, especialista em comunicação política também do CNRS. “Neste assunto, é preciso distinguir entre eleitores e dirigentes. Entre os dirigentes do partido há uma ideologia muito identitária, nacionalista, de extrema direita. Em bom francês: há lá dentro verdadeiros racistas”, descreve Vedel.

O fenômeno, no entanto, não se repetiria entre a imensa massa operária que agora vota Marine. “Nas nossas entrevistas com eleitores, percebemos que eles podem até não gostar da imigração, mas não são necessariamente racistas”, diz o especialista.

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