Aokigahara, a floresta do suicídio no Japão
Estima-se que cerca de 100 pessoas por ano acabem com a própria vida no bosque, que fica aos pés do monte Fuji
Logan Paul, um youtuber que tem mais de quinze milhões de inscritos em seu canal, foi alvo de fortes críticas por ter postado um vídeo que mostra o corpo de um homem enforcado em uma árvore no último final de semana. Inicialmente, ele e o grupo de amigos que o acompanhava se mostram chocados, mas logo dão risada da situação. Quando saem da floresta, ele continua filmando e fazendo piadas sobre o local.
Por causa da repercussão negativa, Paul retirou o vídeo do ar alguns dias depois e pediu desculpas afirmando que queria “conscientizar as pessoas”.
O episódio colocou em evidência a floresta Aokigahara, a cerca de 115 quilômetros de Tóquio, no Japão, onde foram gravadas as imagens. Seu nome significa “Mar de Árvores”, mas ela é conhecida no país como “a floresta do suicídio” e atrai pessoas que desejam dar fim a suas vidas.
Logo na entrada, a frase “a vida é um dom precioso” está gravada em uma grande placa. “Pense mais uma vez em seus pais, irmãos ou filhos (…). Por favor, não sofra sozinho, peça ajuda primeiro”, diz a mensagem. Estima-se que cerca de cem pessoas cometam suicídio por ano ali.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Japão teve 9,2 suicídios por cem mil habitantes em 2015 — mais que o triplo do Brasil, que registrou 2,7 no mesmo período. No total, foram 24.025 suicídios no ano.
Especula-se que a fama da Aokigahara tenha começado por causa de um popular romance de 1961, Nami no To, escrito por Seicho Matsumoto. Uma das personagens da história, ao perceber que nunca poderia ficar com o homem que ela amava, decide cometer suicídio na floresta.
Segundo a emissora americana Fox News, foram encontrados indícios de que a área era usada no passado para a prática do ubasute — o abandono de idosos nas florestas durante épocas em que havia escassez de comida.
Especialistas pesquisam os motivos pelos quais os suicidas japoneses escolhem a Aokigahara há anos, reportou a CNN. O psiquiatra Yoshitomo Takahashi entrevistou sobreviventes de tentativas de suicídio feitas na floresta e concluiu que “eles acreditavam que conseguiriam se matar sem serem vistos por ninguém”. Em seu livro, publicado três décadas atrás, ele afirmou que filmes e notícias também podem ter influenciado a escolha. Algumas pessoas viajavam de outras províncias até a floresta porque desejavam “dividir o mesmo lugar com outros e pertencer ao mesmo grupo”, escreveu.
Karen Nakamura, professora de antropologia na Universidade de Berkeley que foi ouvida pela CNN, vê uma relação entre a floresta e os fóruns online sobre suicídio, comuns no Japão. Ela citou a pesquisa do antropologista Chikako Ozawa-de Silva, que concluiu que os fóruns são uma saída para as pessoas que querem cometer suicídio mas que buscam conexões sociais por temerem o isolamento. “Muitas pessoas se suicidaram em Aokigahara, então você não morreria sozinho”, disse Nakamura.
O governo japonês tem tentado dimimuir o número de suicídios no local. A polícia do município de Yamanashi, responsável pela área, contratou guias florestais para monitorar o parque e identificar pessoas agindo de forma suspeita ou que aparentem precisar de ajuda.