Apesar de frustração por lockdown, Xangai reforça restrições contra Covid
Moradores alegam que medidas rigorosas, como transferências de doentes para centros específicos, não consideram circunstâncias individuais e bem-estar
Autoridades de Xangai reforçaram ainda mais as medidas contra a Covid-19 e alertaram que o confinamento dos moradores de alguns distritos irá continuar até a erradicação da doença. O anúncio, feito nesta sexta-feira, 22, ocorre em meio ao descontentamento da população da maior metrópole da China, que já esta há três semanas sob lockdown rigoroso.
A nova rodada de “grandes ações” contra o coronavírus na cidade entra em vigor já nesta sexta-feira. Segundo o governo local, testes diários serão realizados em todo o território e mais pessoas infectadas serão transferidas aos centros de isolamento.
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“Nosso objetivo é atingir o Covid zero comunitário o mais rápido possível”, afirmou o governo em comunicado, referindo-se à meta de acabar com a transmissão fora das áreas em quarentena.
Autoridades pediram que as pessoas cooperem com as medidas para garantir que os progressos feitos até agora não sejam revertidos. Contudo, as restrições têm irritado os moradores, que alegam que as ordens estavam sendo emitidas em massa por uma questão de velocidade e eficiência, com pouca consideração pelas circunstâncias individuais e bem-estar.
Vídeos circularam amplamente nas mídias sociais chinesas nesta semana mostrando ônibus cheios de pessoas sendo levadas para quarentena, às vezes fora de Xangai. Além disso, cidadãos têm reclamado das más instalações dos centros para onde são enviados todos os casos positivos que não requerem hospitalização.
“Eles são pacientes, não criminosos. Mas aqui é como se eles fossem criminosos e fossem enviados para sofrer”, disse a moradora Zhang Chen, em entrevista à agência Reuters.
O anúncio segue as primeiras mortes registradas desde o início do novo confinamento na China. No útimo domingo, 17, três pessoas morreram, sendo todas com idade acima dos 85 anos e sem esquema vacinal completo contra a doença.
As mortes reforçam a preocupação do governo da China com a baixa taxa de vacinação entre pessoas idosas. Em 5 de abril, mais de 92 milhões de chineses com mais de 65 anos, incluindo 20,2 milhões com mais de 80 anos, não estavam totalmente vacinados.
A cidade chinesa de 25 milhões de habitantes tem enfrentado o pior surto da doença desde o início da pandemia. Pelo menos 320 mil pessoas foram infectadas pela variante ômicron desde março. Em resposta, Xangai adotou uma política de tolerância zero contra o vírus, impondo restrições de deslocamento à população.
Mas o bloqueio resultou em perda de renda, separações familiares, escassez de alimentos e dificuldade em atender a outras necessidades básicas. O banco japonês Nomura alertou que o lockdown na China afeta cerca de um terço da população – e cerca de US$ 7,2 trilhões (R$ 34 trilhões) do PIB anual do país. Segundo o jornal americano The New York Times, um economista chegou a prever que a nação poderia entrar em recessão nos próximos meses.
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Nesta sexta-feira, o centro financeiro chinês registrou 15.698 novos casos locais de coronavírus assintomáticos, abaixo dos 15.861 do dia anterior. Novos casos sintomáticos ficaram em 1.931, abaixo dos 2.634. Nos últimos cinco dias, 36 pessoas infectadas com Covid-19 morreram em Xangai, disseram as autoridades.