Os governos de Mianmar e Bangladesh anunciaram um acordo nesta quinta-feira sobre o repatriamento de refugiados rohingya à Mianmar. Os rohingyas, uma minoria muçulmana, são vítimas de frequentes ataques de gangues budistas em Mianmar, onde suas vilas são incendiadas e eles, perseguidos. A Organização das Nações Unidas (ONU) classificam a ação contra a minoria em território mianmense como sendo uma campanha de limpeza étnica. Os termos da negociação sobre o destino das mais de 600 mil pessoas refugiadas em território bengalês não foram revelados.
De acordo com o ministério de Relações Exteriores de Bangladesh, um grupo de trabalho conjunto entre os dois países asiáticos será formado dentro das próximas três semanas — a repatriação dos refugiados deve começar em dois meses. “Estamos prontos para recebê-los de volta o mais rápido possível, assim que Bangladesh nos envie os formulários”, disse Myint Kyaing, oficial do ministério do Trabalho, Imigração e Sociedade de Mianmar, à agência de notícias Reuters.
O acordo foi anunciado após o encontro entre a líder civil de Mianmar, Aung San Suu Kyi, e o ministro de Relações Exteriores bengalês, Abul Hassan Mahmood Ali. Ambos os países enfrentam grande pressão da comunidade internacional para resolver a crise dos refugiados. Na quarta-feira, o secretário de Estado Americano, Rex Tillerson, também classificou os ataques contra os rohyngia de “limpeza étnica”.
“Após uma minuciosa análise dos fatos disponíveis, fica claro que a situação no norte do estado de Rakhine constitui limpeza étnica contra os rohingya”, declarou Tillerson sobre o caso. A mais recente onda de violência explodiu em 25 de agosto, quando os rebeldes do Exército de Salvação Rohingya de Arakan (ARSA, na sigla em inglês), que afirmam defender a minoria muçulmana, atacaram dezenas de delegacias de polícia. “Nenhuma provocação justifica as atrocidades horrendas que se seguiram [contra a minoria]”, disse o chefe da diplomacia americana sobre a reação do Exército birmanês.
A resolução bilateral, segundo Bangladesh, será “concluída da maneira mais rápida possível”, quando devem ser revelados detalhes como o número de refugiados que serão devolvidos a Mianmar, para onde e sob quais condições eles serão repatriados. Nay San Lwin, ativista rohyngia ouvido pela rede Al Jazeera, manteve-se cauteloso sobre o acordo. “Bangladesh não deveria enviar de volta nenhum refugiado a não ser que a cidadania e os direitos básicos dessas pessoas em Mianmar sejam garantidos”, pontuou o militante.
No contexto das negociações, o Papa Francisco está de viagem marcada para os dois países ainda no fim de novembro. O giro do pontífice, a quem lideranças políticas e religiosas recomendaram não utilizar o termo ‘rohyngia’ em seus pronunciamentos, tem início no dia 27 e vai até o dia 2 de dezembro.