O presidente da Síria, Bashar al-Assad, foi recebido na cúpula da Liga Árabe, em Jeddah, nesta sexta-feira, 19, com um abraço do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, o anfitrião do evento. A presença de Assad era rejeitada na reunião há anos e a mudança de política recebeu oposição dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais.
O líder sírio foi condenado ao ostracismo pelos países árabes enquanto recebia apoio russo na guerra civil da Síria. O país foi suspenso da Liga Árabe quando mergulhou em uma guerra civil que matou mais de 350 mil pessoas. Na reunião, o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, recebeu Assad calorosamente.
“Esperamos que o retorno da Síria à Liga Árabe leve ao fim de sua crise”, disse o príncipe, conhecido pela sigla MBS.
A presença de Assad foi acompanhada na cúpula pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que quer construir apoio para a batalha de Kiev contra os russos. Os Estados do Golfo tentam em maioria, no entanto, permanecer neutros no conflito na Ucrânia, apesar da pressão ocidental sobre os produtores de petróleo para isolar a Rússia, também membro da Opep+.
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Em um discurso, o príncipe afirmou que Riad está pronta para mediar a paz entre a Rússia e a Ucrânia. Também na cúpula, Zelensky agradeceu a ajuda da Arábia Saudita na libertação de um prisioneiro no ano passado e pediu para que os países apoiassem a proposta de paz ucraniana.
Potência do petróleo, a Arábia Saudita, outrora fortemente influenciada pelos Estados Unidos, assumiu a liderança diplomática no mundo árabe em 2022. Além de receber de volta a Síria, o país também restabeleceu os laços com o Irã e está mediando o conflito no Sudão.
Os EUA se opuseram a qualquer passo para a normalização com Assad, dizendo que primeiro deve haver progresso em direção a uma solução política para o conflito. O então presidente americano Donald Trump rotulou Assad como um “animal” por usar armas químicas em 2018, o que ele negou.
Depois do início da guerra, o líder sírio só saia da Síria para o Irã e a Rússia. Entretanto, em 2022, ele visitou visitou os Emirados Árabes Unidos, sua primeira viagem a um país árabe desde 2011.
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“Os americanos estão consternados. Nós (Estados do Golfo) somos pessoas que vivem nesta região, estamos tentando resolver nossos problemas o máximo que podemos com as ferramentas disponíveis em nossas mãos”, disse uma autoridade próxima aos círculos governamentais do Golfo à agência de notícias Reuters.
Dando as boas-vindas a Assad, os países árabes querem que ele controle o crescente comércio de drogas da Síria em troca de laços mais estreitos. O comércio da droga captagon, conhecida como a “cocaína dos pobres”, se tornou uma grande preocupação para os líderes árabes.
Além disso, a guerra civil destruiu a economia da Síria, demolindo infraestruturas, cidades e fábricas. Assad se beneficiaria com o investimento do Golfo no país devastado, embora as sanções dos EUA compliquem quaisquer laços comerciais com Damasco.
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A reaproximação árabe com Assad ganhou força depois que a China negociou um acordo em março que resultou em Riad retomar relações diplomáticas com o Irã, que junto com a Rússia ajudou Assad a derrotar rebeldes sunitas e recuperar o controle de algumas grandes cidades na Síria. Porém, uma grande parte do país permanece sob controle de rebeldes apoiados pela Turquia e grupos radicais islâmicos, bem como uma milícia curda apoiada pelos Estados Unidos.
Segundo as Nações Unidas, desde 2011, mais de 14 milhões de sírios foram forçados a fugir de suas casas. Cerca de 6,8 milhões de sírios continuam deslocados internamente em seu próprio país, onde 90% da população vive abaixo da linha da pobreza. O número de refugiados sírios vivendo nos cinco países vizinhos (Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito) é de 5,5 milhões.