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Após eleição, Macron traz mensagem de otimismo para a França

O próximo desafio do recém-eleito Emmanuel Macron são as eleições legislativas, marcadas para 11 de junho

Por Gabriel Brust, de Paris
Atualizado em 7 Maio 2017, 22h44 - Publicado em 7 Maio 2017, 19h03

O candidato independente Emmanuel Macron foi eleito por 66,06% dos votos. Marine Le Pen recebeu 33,94% de apoio no segundo turno das eleições na França neste domingo. Três dias antes da eleição que consagrou Macron o novo presidente da França, o escritor mais popular do país definiu assim o movimento do candidato centrista: “É uma terapia de grupo para converter a França ao otimismo”.

Para Michel Houellebecq, autor de “Submissão” e grande tradutor do mal-estar francês contemporâneo, Macron surge como uma cura para um país doente de pessimismo, “que se compara de maneira obsessiva com a Alemanha” para descobrir que não consegue ser como o vizinho.

No universo houellebequiano, o otimismo com a vitória de Macron traz em si o seu contrário, uma melancolia que reconhece que não há mais retorno ao passado da França industrializada. Eleger Macron é “aceitar a mundialização e fazer coisas diferentes de um smartphone. Somos bons no artesanato, na gastronomia, no turismo”, listou Houellebecq, no palco do programa Emission Politique, no tom depressivo de sempre. O otimismo francês dura poucas frases.

Nos cartazes fixados por todo o país, abaixo do olhar sério de Macron, o slogan “A França deve ser uma chance para cada pessoa” tinha ares de autoajuda, principalmente quando somada aos discursos emocionais do jovem candidato, poucas vezes vistos na sisuda política francesa. Emoção que chegou ao seu auge na tarde de 18 de fevereiro.

Em um comício na cidade de Toulon, Macron paralisou a multidão ao usar uma frase ícone de Charles de Gaulle: “Eu entendi vocês” disparou, em tom dramático, fazendo referência ao discurso feito pelo primeiro presidente da 5ª república em 4 de junho de 1958, na Argélia. Na ocasião, De Gaulle começou abriu a fala histórica com esta frase na intenção de acalmar a multidão que lhe assistia na Praça do Fórum de Argel em plena guerra pela independência da colônia.

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Na versão de Macron, o célebre “Je vous ai compris” ganhou um complemento. “Eu entendi vocês. E eu amo vocês”, disparou, dando o toque emocional quase populista característico de sua retórica. Desde então, a França discute o que é o “Macronismo”, essa força que agora sobe ao poder.

“O macronismo tem sentido por um lado e eletricidade por outro”, na definição de François Lenglet, analista econômico da rede France2. O sentido, ele não tem dúvida, é liberal: “É o desenvolvimento da economia privada, é reduzir o estado. Um programa liberal clássico”, definiu, em análise após a vitória. O lado que forneceria a eletricidade seria o carisma e a proposta social, a “flexi-seguridade” escandinava, grande inspiração de Macron.

Primeiro desafio: eleição legislativa

Se por um lado falou ao coração dos franceses, Macron não abriu mão de algumas propostas altamente impopulares. O tema reforma trabalhista, que faz os franceses terem arrepios, esteve na linha de frente durante toda a campanha, sem constrangimento. O novo presidente é claro: é preciso tornar o atual modelo de emprego francês menos protetor para incluir os 10% de desempregados no mercado de trabalho. O fato de 65% dos eleitores terem dado seu voto por um candidato que quer mexer nesta instituição francesa que são os direitos trabalhistas é o maior sinal de que o país está mudando – e que Macron soube perceber isso.

A casca de banana que pode aparecer no caminho do novo governo e fazer o otimismo virar fúria tem data marcada para aparecer: 11 de junho, quando os franceses vão às urnas novamente eleger o novo parlamento. Os discursos de Marine Le Pen e do radical de esquerda Jean-Luc Mélenchon – que obteve quase 20% dos votos no primeiro turno – já mostram que as duas forças extremistas estão mobilizadas para compor uma forte oposição ao novo governo.

Mélenchon e seu movimento França Insubmissa deve constituir a maior resistência às reformas e já deixou claro que poderá repetir as cenas de protesto e pancadaria nas ruas das grandes cidades franceses verificadas no ano passado, quando François Hollande fez uma tímida mudança na lei trabalhista.

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De Marine Le Pen, Macron deve esperar resistência no plano das relações econômicas internacionais. “Este resultado histórico e massivo nos escolheu como primeira força da oposição”, disse Le Pen. “O segundo turno criou uma reorganização política entre os patriotas e os mundialistas”, definiu a candidata derrotada.

Restará a Macron tentar eleger uma forte bancada e ainda contar com a esquerda da direita, e a direita da esquerda. Ou seja, os moderados do partido Os Republicanos e os moderados do Partido Socialista. Com estes apoios, terá de propor a mãe de todas as reformas: a da União Europeia. Macron já acenou de forma positiva ao projeto do economista Thomas Piketty de propor à Alemanha a criação de um parlamento da Zona do Euro, para aproximar o povo das instituições europeias.

“Como alguém que acabou de escapar de um ataque cardíaco, a Europa levanta suas taças para um brinde e agradece a vitória de Emmanuel Macron”, escreveu o historiador britânico Timothy Garton Ash. Não sem um alerta: “A taça está só metade cheia. Se a Europa não mudar seus rumos, esta vitória terá apenas adiado seu dia fatídico”.

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Como se tivesse lido Garton Ash antes de subir ao palco diante do Museu do Louvre para o discurso da vitória, Macron prometeu à multidão que o dia fatídico não chegará: “Farei de tudo nos próximos cinco anos para que ninguém mais tenha razão para votar nos extremistas”.

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