Representantes dos Estados Unidos e da Rússia se reuniram em Genebra, na Suíça, nesta sexta-feira, 21, para discutir a crescente crise na Ucrânia, horas depois de Moscou alertar que as relações com Washington atingiram um ponto “perigoso e crítico”.
O encontro, que sucede negociações frustradas, teve presença do secretário de Estado americano, Antony Blinken, e do ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov. Na semana passada, Moscou e o Ocidente participaram de conversas diplomáticas, mas as negociações foram inconclusivas e ficaram longe de solucionar desentendimentos sobre a Ucrânia e outras questões de segurança.
Durante uma hora e meia, meia hora a menos do que o previsto, os dois chanceleres fizeram o que Blinken definiu como “troca de visões”, tendo como ponto central a lista de garantias de segurança feitas pela Rússia à principal aliança militar ocidental, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Apesar da falta de ações concretas e de avanços significativos, o secretário de Estado americano concordou em atender o pedido da Rússia de enviar respostas formais por escrito às demandas de Moscou por garantias de que antigas repúblicas soviéticas, como Ucrânia e Geórgia, não integrarão a Otan. O Kremlin também pede garantias da retirada de tropas do grupo destes países, diminuindo a presença militar ocidental em nações vizinhas à Rússia.
Ainda não se sabe, no entanto, se as respostas formais serão divulgadas publicamente.
O Kremlin é contra a possível adesão de Kiev à aliança militar da Otan e vem alertando que uma adesão terá consequências graves. A Otan, por sua vez, afirma que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos 30 aliados da Otan e pela Ucrânia, mais ninguém”.
À imprensa, o chanceler russo disse que, após obter as respostas por escrito e elas serem examinadas pelo governo, a Rússia vai decidir o melhor caminho a seguir. Ele acrescentou que o presidente do país, Vladimir Putin, já indicou que está sempre disposto a se encontrar novamente com o presidente americano, Joe Biden, mas enfatizou que, para que isso ocorra, “todos nós entendemos quais teriam que ser os resultados”.
Lavrov também declarou após a reunião que reiterou ao chefe da diplomacia americana que a Rússia não tem intenção de atacar a Ucrânia e que a instabilidade vivida pelo país vizinho não é resultado de ações russas, mas de seus próprios problemas internos
“Não ouvi hoje nenhum argumento que sustente a posição dos EUA sobre o que está acontecendo na fronteira russo-ucraniana. Apenas preocupação, preocupação e preocupação, mas nossa preocupação é com fatos reais que ninguém está escondendo: o fornecimento de armas para a Ucrânia, o envio de centenas de instrutores militares ocidentais”, disse Lavrov.
O chanceler russo também criticou a intenção da UE de criar uma missão de treinamento militar na Ucrânia.
Em entrevista à imprensa após o encontro desta sexta-feira, Blinken enfatizou que a Rússia ainda tem a opção de escolher o caminho da diplomacia no que diz respeito às tensões envolvendo a Ucrânia, mas que se escolher o conflito, “haverá sérias consequências e condenação internacional”.
“Os Estados Unidos e a Europa estão prontos para se encontrar com a Rússia em qualquer um destes dois caminhos”, advertiu. “Ouvimos (Lavrov) repetir que eles (russos) não têm intenção de invadir a Ucrânia, mas há coisas que todos nós vemos, então eu lhe disse que, para convencer o mundo, poderiam chamar de volta os militares que colocaram na fronteira e permanecer comprometidos com a via diplomática, como fizeram hoje”.
Imagens de satélites feitas pela Maxar Technologies e fornecidas à CNN mostram que há presença de tropas e equipamentos a menos de 50 quilômetros da fronteira com a Ucrânia, com um aumento entre 7 de setembro e 5 de dezembro no número de veículos.
As avaliações mais recentes da inteligência dos EUA colocam mais de 50 grupos táticos enviados dentro e nos arredores da fronteira com a Ucrânia. Estes grupos, que normalmente possuem 900 militares cada, são altamente diversificados e representam unidades de combate que possuem artilharia, armas anti-tanque, reconhecimento, engenharia e soldados.
Durante a entrevista coletiva, o chefe da diplomacia americana assegurou, por outro lado, que os EUA ouviram na reunião de hoje, como nas semanas anteriores, as preocupações de segurança da Rússia “e estão preparados para atendê-las com um espírito de reciprocidade”.