Após golpe, militares garantem que futuro governo no Sudão será civil
Conselho transitório afirmou que não pretende instalar nova ditadura; descrentes, manifestantes continuam acampados nas ruas da capital, Cartum
Depois de executarem um golpe que depôs o ditador Omar al-Bachir, o conselho militar do Sudão garantiu nesta sexta-feira, 12, que irá dialogar com “todas as entidades políticas” do país para que o futuro governo seja formado por civis.
“Vamos dialogar com todas as entidades políticas, com o objetivo de preparar o clima para as negociações e para a realização das nossas aspirações”, declarou o general Omar Zinelabidine, membro do Conselho militar de transição.
Na quinta-feira 11, após três décadas no poder, Bashir, de 75 anos, foi removido da presidência e preso pelas autoridades militares. Em um pronunciamento televisionado, o ministro da Defesa, Awad Ibn Ouf, afirmou que as Forças Armadas supervisionarão o período de transição de dois anos. Ele também anunciou o início de um estado de emergência de três meses.
Há meses, Bashir vinha sendo pressionado por manifestações em todo o país. Os protestos começaram em dezembro depois que o governo decidiu triplicar o preço do pão em um país mergulhado na crise econômica. Rapidamente, os atos se transformaram em um movimento contra o ditador.
Desde o último sábado 6, milhares de manifestantes exigiam, em frente ao quartel-general do Exército, o apoio dos militares, que interrompeu a programação da televisão estatal para transmitir o “importante anúncio das Forças Armadas.”
Mas apesar das declarações dos militares nesta sexta, os manifestantes continuam acampados nas ruas da capital sudanesa, Cartum, temendo que os golpistas sejam próximos demais ao governo de Bashir, o que daria continuidade ao modelo de seu regime.
A decisão de não extraditar o líder por seus crimes de guerra ressoou como uma prova desta aliança. Em resposta às críticas, o conselho militar de transição argumentou que ele ainda pode ser submetido a julgamento dentro do Sudão.
O ex-ditador é alvo de dois mandados expedidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), que o acusa de comandar crimes de guerra e crimes contra a humanidade na região de Darfur entre 2003 e 2008.
Bashir tomou o poder no Sudão em 30 de junho de 1989, graças a um golpe apoiado pelos islamistas contra o governo democraticamente eleito do então presidente Sadek Mahdi.
Em 2010, ele foi eleito presidente durante as primeiras eleições multipartidárias, boicotadas pela oposição. Foi reeleito em 2015.
(com AFP)