Após OMS e Acordo de Paris, EUA saem também da Unesco
Sob governo de Donald Trump, país deixou uma série de órgãos internacionais, como o Conselho de Direitos Humanos da ONU

Os Estados Unidos deixaram a Unesco, informou a Casa Branca nesta terça-feira, 22, citando a promoção de causas “divisivas” pela agência de cultura e educação das Nações Unidas. É apenas a mais recente instituição internacional da qual o presidente americano, Donald Trump, retirou seu país.
“A Unesco trabalha para promover causas sociais e culturais divisivas e mantém um foco desmedido nos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, uma agenda globalista e ideológica para o desenvolvimento internacional em desacordo com nossa política externa de ‘América em Primeiro Lugar'”, disse Tammy Bruce, porta-voz do Departamento de Estado americano.
A medida representa um golpe para a agência sediada em Paris, fundada após a Segunda Guerra Mundial para promover a paz por meio da cooperação internacional em educação, ciência e cultura. Anteriormente, a porta-voz adjunta da Casa Branca, Anna Kelly, já havia dito ao New York Post: “O presidente Trump decidiu retirar os Estados Unidos da Unesco, que apoia causas culturais e sociais divisivas e woke, que estão totalmente fora de sintonia com as políticas de senso comum pelas quais os americanos votaram em novembro”.
Em fevereiro, a Casa Branca anunciou que revisaria por noventa dias a adesão dos Estados Unidos à Unesco, afirmando em um comunicado que o organismo global “demonstrou falha em se reformar, demonstrou continuamente sentimentos anti-Israel na última década e não conseguiu resolver as preocupações com o aumento de atrasos (em projetos)“.
Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, afirmou que lamentava “profundamente” a decisão de Trump, ressaltando que a medida “contradiz os princípios fundamentais do multilateralismo”, mas não pareceu surpresa.
“Por mais lamentável que seja, este anúncio era esperado e a Unesco se preparou para ele”, disse, referindo-se a reformas estruturais e diversificação de fontes de financiamento. Ela acrescentando que os motivos apresentados por Washington “contradizem a realidade dos esforços” da organização, “particularmente no campo da educação sobre o Holocausto e da luta contra o antissemitismo”.
Saída do palco internacional
Trump vem conduzindo uma redefinição do papel dos Estados Unidos na geopolítica, em que não há espaço para diplomacia e trabalho em conjunto, apenas negócios. Mal sentou-se à mesa no Salão Oval, desferiu seu primeiro grande golpe ao multilateralismo ao assinar um decreto para retirar o país da Organização Mundial da Saúde (OMS), que acusou de má gestão da covid-19 e de deferência à China.
Da mesma forma, saiu do Acordo de Paris, repetindo o movimento do primeiro mandato, que segundo ele sobrecarrega desproporcionalmente as indústrias americanas, particularmente as de carvão, petróleo e manufatura, no combate às mudanças climáticas.
Em fevereiro, anunciou ainda que Washington não faria mais parte do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, acusando o órgão de adotar políticas anti-Israel e ser palanque para ditaduras como China, Venezuela e Cuba. Com os golpes, a ONU, já desidratada e pouco influente, fica ainda menos confiável como mediadora num mundo imprevisível.
Trump também suspendeu o apoio à UNRWA, principal órgão da ONU em Gaza, e chocou o mundo ao desmantelar a USAid, agência do governo americano que respondia por mais de 40% de toda a ajuda humanitária do mundo, o que levou à suspensão de dezenas de programas de saúde, educação e controle de epidemias em mais de 120 países.
Ele tomou medidas semelhantes durante seu primeiro mandato, deixando a OMS, o Conselho de Direitos Humanos, o Acordo de Paris – e também o acordo nuclear com o Irã. Seu sucessor, Joe Biden, reverteu essas decisões após assumir o cargo em 2021.
Financiamento americano
A Unesco é conhecida por classificar Patrimônios Mundiais, incluindo o Grand Canyon, nos Estados Unidos, e a antiga cidade de Palmira, na Síria. Também possui um amplo programa cultural e educacional para promover o diálogo intercultural.
Os Estados Unidos aderiram à instituição em sua fundação, em 1945. Mas não é a primeira vez que deixam o órgão. Em 1984, Ronald Reagan tomou a decisão em protesto contra o que denunciou como má gestão financeira e políticas antiamericanas, voltando à ativa apenas quase vinte anos depois, em 2003, sob o presidente George W. Bush, que então afirmou que a agência havia realizado as reformas necessárias.
Os Estados Unidos fornecem cerca de 8% do orçamento total da Unesco – uma queda em relação aos cerca de 20% na época em que Trump retirou o país da agência pela primeira vez.