O Conselho Municipal da cidade portuária de Mariupol, na Ucrânia, afirmou nesta terça-feira, 22, que a Rússia está transformando a região nas “cinzas de uma terra morta”, completando que mais duas bombas caíram sobre a cidade, que estava sitiada há semanas. Segundo autoridades da Defesa americanas, de acordo com o jornal britânico The Guardian, forças russas conseguiram entrar na cidade, um dia após um pedido de rendição ser recusado.
A situação de Mariupol, com cerca de 400.000 habitantes antes da guerra, é a mais grave do ponto de vista humanitário desde o início do conflito, em 24 de fevereiro. Autoridades ucranianas estimam que centenas de milhares de moradores estejam presos sob bombardeios e sem acesso a comida, água, energia elétrica e aquecimento.
A metrópole é alvo central na guerra de Vladimir Putin na Ucrânia – fornecendo uma ligação terrestre entre as forças russas na Crimeia, a sudoeste, e territórios controlados pela Rússia ao norte e leste.
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De acordo com a organização internacional Human Rights Watch, mais de 200.000 pessoas seguem presas na cidade em uma condição descrita como uma “paisagem infernal congelante, repleta de cadáveres e prédios destruídos”.
O conselho municipal não forneceu detalhes sobre vítimas ou danos do último bombardeio e nenhum jornalista tem conseguido trabalhar de forma independente dentro dos limites da cidade há pelo menos uma semana. O governo ucraniano diz que a Rússia atingiu locais públicos, incluindo um teatro e uma maternidade, ocasionando a morte de mulheres e crianças.
“Mais uma vez está claro que os russos não têm interesse em Mariupol. O que eles querem é nivelá-la ao chão e torná-la as cinzas de uma cidade morta”, disse o conselho em comunicado.
Na última segunda, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, acusou a Rússia de praticar “um verdadeiro ato de genocídio contra a cidade ucraniana de Mariupol”, destacando que o Exército russo matou “150 crianças ucranianas e destruiu mais de 400 escolas e creches”, além de 110 hospitais, e aniquilou “milhares e milhares de civis”.
Além dos ataques a civis, a Ucrânia acusa Moscou de bloquear as vias de acesso para que comboios de suprimentos possam entrar na cidade, algo que o Kremlin nega. Na última segunda-feira, a Rússia emitiu um ultimato para que Mariupol se rendesse, que foi ignorado por Kiev. O comando militar do Kremlin alertou as autoridades em Mariupol que eles tinham até as 5h de 21 de março para responder a oito páginas de demandas.
A mensagem para a rendição de Mariupol foi emitida pelo general russo Mikhail Mizintsev. Segundo o militar, os ucranianos que não entregarem suas armas vão enfrentar Corte Marcial caso sejam capturados.
“Exigimos a abertura de um corredor humanitário para civis. Nossos militares estão defendendo o nosso território heroicamente. Nós não aceitamos o ultimato. Eles ofereceram capitulação sob uma bandeira branca. Isso é manipulação, mentira”, disse a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, em entrevista à redes de TV ucranianas nesta terça-feira.
O governo ucraniano acusa também a Rússia de deportar de maneira ilegal moradores de Mariupol e das áreas separatistas de Donetsk e Luhansk para território russo. De acordo com Vereshchuk, Kiev está investigando a “transferência forçada” de 2.389 crianças dessas regiões, situação definida pela embaixada dos Estados Unidos como sequestro.
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Além disso, há a acusação de que os russos estão bloqueando o acesso humanitário a Kherson, única grande cidade capturada até então. O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia afirma que seus 300.000 moradores estão ficando sem comida. Perto de completar um mês de guerra, as tropas russas não conseguiram tomar nenhum grande centro além de Kherson, o que tem feito o Exército intensificar bombardeios e ataques de mísseis às cidades.
De acordo com dados das Nações Unidas, mais de 3,5 milhões de pessoas já deixaram a Ucrânia em direção a outros países e outras 6,5 milhões se deslocaram internamente desde o início do confronto. Isso significa que um em cada quatro ucranianos foram obrigados a sair de suas casas devido à guerra.