Após sumiço em colônia penal, opositor de Putin reaparece com piadas
Após 20 dias desaparecido, Alexei Nalvany participou de primeira audiência judicial no Ártico, na qual aproveitou para alfinetar o Kremlin
Depois de ter desaparecido por 20 dias, o líder da oposição russa Alexei Navalny participou nesta quarta-feira, 10, da sua primeira aparição no tribunal russo, por videochamada, desde que foi transferido para uma colônia penal no Ártico, chamada Lobo Polar. No encontro, ele fez piadas com a situação e arrancou risadas do juiz ao perguntar se Melekhovo, onde estava detido anteriormente, havia realizado uma festa para celebrar sua partida e se incluía karaokê e nudismo.
O questionamento de Navalny é uma espécie de alfinetada no presidente da Rússia, Vladimir Putin, já que uma festa com celebridades seminuas provocou um escândalo nacional no mês passado, em Moscou – a farra, que foi logo interrompida por policiais, ocorre enquanto o Kremlin tenta avançar com uma agenda mais conservadora. A libertinagem desagradou, em especial, os soldados russos que lutam nos campos de batalha na Ucrânia, segundo a agência de notícias Reuters.
O homem de 47 anos, que cumpre penas que somam mais de três décadas, utiliza-se das audiências para criticar Putin e a invasão russa na Ucrânia. Na sessão, ele confidenciou ao juiz Kirill Nikiforov que estava emocionado por revê-lo, dizendo: “Uma lágrima escorre pelo meu rosto”. Envenenado por agentes da inteligência russa em 2020, que aplicaram a substância neurotóxica Novichok em suas cuecas, Nalavany nega as acusações e alega que é vitima de perseguição e silenciamento.
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De mudança para o Ártico
A colônia dos Lobos Polares está localizada a quase 2 mil quilômetros de Moscou e é considerada uma das mais duras da Rússia. Em postagem nas redes sociais, publicada pelos seus advogados, ele brincou que a temperatura “ainda não estava mais fria do que -32°C” e que achava o exercício matinal “revigorante”.
Navalny aproveitou o espaço na audiência desta quarta-feira para denunciar que autoridades penitenciárias supostamente o enviaram para uma cela de isolamento por xingar um inspetor de “demônio”, “idiota” e “espantalho” em outubro, de acordo com reportagem da Reuters, mas reconheceu que tinha exagerado nas críticas. Ele afirmou que teve suas canetas confiscadas, impedindo a sua comunicação.
O juiz, no entanto, rejeitou a reclamação. Navalny também pontuou que, na época do incidente, já deveria ter sido transferido para outra prisão, já que foi condenado a mais 19 anos de reclusão em agosto. Apesar da série de protestos, ele contou que a comida estava boa. Mas, até o momento, não recebeu cartas nem telegramas por estar “muito longe”.