Após Trump atropelar Brasil na candidatura ao BID, Ernesto apoia EUA
Ministério das Relações Exteriores disse que "recebeu positivamente" a indicação americana à presidência da instituição, tradicionalmente brasileira
O Ministério das Relações Exteriores disse nesta quarta-feira, 17, que o governo “recebeu positivamente” a reivindicação dos Estados Unidos da presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O presidente americano, Donald Trump, decidiu não apoiar a candidatura brasileira nesta terça-feira, quebrando uma tradição de seis décadas em que a instituição é presidida por um latino-americano.
“O Governo brasileiro recebeu positivamente o anúncio do firme comprometimento do governo dos Estados Unidos com o futuro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) por meio da candidatura norte-americana à presidência da instituição”, comunicou o Ministério das Relações Exteriores, encabeçado por Ernesto Araújo.
O Departamento do Tesouro americano disse que está apoiando Mauricio Claver-Carone, diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional para Assuntos do Hemisfério Ocidental, para o cargo que hoje é do colombiano Luis Alberto Moreno. Claver-Carone é um dos elaboradores das políticas mais linha-dura contra o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela.
“O Brasil e os Estados Unidos compartilham valores fundamentais, como a defesa da democracia, a liberdade econômica e o Estado de Direito. O Brasil defende uma nova gestão do BID condizente com esses valores”, completou o Ministério das Relações Exteriores.
Expectativas frustradas
O governo de Jair Bolsonaro acreditava que Trump apoiaria Rodrigo Xavier, ex-presidente dos bancos UBS e Bank of America no Brasil. Ele foi lançado publicamente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Tradicionalmente, os Estados Unidos abrem mão de indicar o candidato ao comando do BID devido ao fato de o país já ser o maior acionistas do banco. Portanto, a decisão de Trump assinala que a quebra do protocolo se relaciona diretamente com a frustração do plano brasileiro.
Além do presidente americano não querer defender um candidato pouco conhecido em Washington, como Xavier, também pode haver um custo político em apoiar uma figura muito associada ao próprio Bolsonaro – cuja imagem ficou deteriorada aos olhos estrangeiros, particularmente devido à sua gestão da pandemia de coronavírus.
Na eleição do BID, os Estados Unidos têm 30% dos votos e o Brasil é o segundo maior participante, com 11%. Para vencer, é preciso receber apoio de 15 dos 26 escritórios regionais. O mandato do presidente dura cinco anos e, caso a habitual rotação de países que ainda não presidiram o banco continuasse, candidatos do Brasil ou da Argentina teriam mais chance na disputa deste ano.
Como a Argentina elegeu no ano passado Alberto Fernández, de ideologia de esquerda, o governo Bolsonaro acreditava que poderia conquistar o apoio de Trump.
A história se repete
De maneira semelhante, na última eleição para presidente do BID, os Estados Unidos deixaram o Brasil na mão para apoiar o atual chefe da instituição, Luis Alberto Moreno.
Com 15 votos dos países membros, o colombiano nascido na Filadélfia, foi eleito o presidente do órgão pela primeira vez em 2005. “Candidato dos Estados Unidos”, Moreno venceu o brasileiro João Sayad, vice-presidente do BID e seu mais forte concorrente, com apoio dos americanos, além de Uruguai, México, Belize, Costa Rica, Guatemala, Colômbia e Panamá.
Moreno era embaixador de seu país em Washington e foi reeleito para o cargo em 2010, depois novamente em 2015. Neste ano, entra em vigor uma reforma que proíbe mais de uma reeleição.